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17 de jul. de 2015

A linda imagem da podridão

Sarcófagos criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 16-07-2015.
Sarcófagos*, criado em 16-07-2015.

Jesus falou: Todas as coisas que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!;
  • porque fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.
  • porque devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo.
  • porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.
  • porque dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. Condutores cegos! que coais um mosquito e engulis um camelo.
  • porque limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de intemperança. Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo.
  • porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.
(Bíblia — trechos de Mateus 23:1-39)

Se a fé é seu único argumento, por favor, não me critique: é um direito inalienável meu crer de forma diferente de você.

Há um certo bode no ar, resultante de uma bad trip, a intoxicação causada por uma poderosa droga considerada lícita: a manipulação pelos meios de comunicação — religiosa ou não — realizada pelos mesmos operadores do controle midiático e utilizando as mesmas argumentações das estrelas gospel da pregação.

A crítica se estabelece na incoerência: prega-se o que não se pratica. Todos, por um passe de mágica, esqueceram que os primeiros cristãos receberam esta nomeação por repartirem entre si o cuidado, dividindo tudo o que possuíam. Cuidavam diligentemente dos pobres, das viúvas, das crianças — os desconsiderados socialmente. Comportavam-se como o comunista crucificado: tinham tudo em comum.

O tal do enriquecimento como prova da benção divina não foi alvo de nenhuma pregação do Cristo, nem discursos de desqualificação. Perdão. Esqueci dos pregadores aliados aos políticos e os desviadores da fé em prol dos recursos financeiros — o tais sepulcros caiados, vendendo uma linda e alva imagem da podridão interior. Os que, já naquela época fediam, e seu cheiro já alcançava os céus, na expressão que usam para outros grupos que não adotam seus discursos.

Palavras se desgastam pelo uso, mas ainda são importantíssimas: fundamentalismo, radicalismo, intolerância. Certamente o oposto da figura que alegam representar, os fariseus pós-modernos continuam reproduzindo o antigo modelo, aliando-se aos políticos em negociatas visando a expansão de seu poder de influência. Vale tudo para que suas imposições tornem-se leis.

E, como em gerações passadas, a população é usada em prol dos seus interesses: crucificam o salvador por que em desacordo com as interpretações estabelecidas. Certamente, ensinam o 'queremos o filho do Pai', só que indicam um outro para ocupar o lugar do autêntico, o Barrabás. Esse desvio do verdadeiro alvo se repete na atualidade e os incautos são enganados e perpetuam seu poder político, social e financeiro.

Recentemente, vi algumas pessoas se escandalizando ao ver crianças sendo obrigadas a decepar cabeças de infiéis, esquecendo que a motivação é a mesma, a prática é a mesma: controle social por uma camada sacerdotal. Que importa quantos são mortos ou torturados por interesses particulares escusos (como em qualquer ditadura!)? Que importa quantos são alijados de sua cidadania ou relegados a uma segunda categoria de humanidade? Uma vez a insanidade tenha se estabelecido, os discursos de ódio ganham consistência e prática: não pensa como eu, precisa ser eliminado. Afinal tudo é feito em nome de Deus — o que quer que tenham tornado essa expressão.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de julho de 2015.

* Sepulcro foi a analogia escolhida por Jesus para a hipocrisia. O sarcófago, privilégio de mortos da classe alta, era uma urna funerária, geralmente de pedra, colocada sobre o solo ou enterrada. No Antigo Egito, corpos mumificados na busca de evitar-se o mau cheiro e deter a decomposição eram depositados nesse tipo de urna, mas a caixa ricamente ornada apenas desviava a atenção do essencial: não pulsava vida ali dentro.

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