Pesquisar este blog

18 de jul. de 2015

Os pressionados estão impressionados

Disruptivo, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-07-2015.
Disruptivo*, criado em 17-07-2015.

Olho na pressão, tá fervendo.
Olho na panela, dinamite é o feijão cozinhando dentro do molho dela.
A bruxa acendeu o fogo, se liga, rapaziada, tem mandinga de caboclo mandando nessa parada:
garrafada de serpente, despacho de cachoeira. Quanto mais o fogo sobe mais a panela tá cheia.
A bruxa mexeu o caldo, se liga aí, ô galera. Tá pingando, na mistura, saliva da besta-fera:
chacina no Centro-oeste e guerrilha na fronteira; emboscada na avenida, tiro e queda na ladeira.
Mas feitiço é bumerangue perseguindo a feiticeira.

(Lenine — Na pressão)


Há um mundo que se estabelece pela pressão e tenta nos ensinar a lição de há níveis suportáveis, outros que precisamos evitar a qualquer custo para que não ocorra fraturas incorrigíveis.

Quando a terra chacoalha, o vento fustiga, vulcões expelem suas entranhas, o mundo coloca a nossa disposição um arsenal de analogias para o que é efetuado quando os níveis são desrespeitados.

Mas, da pressão social quase sempre esquecemos de avaliar o potencial disruptivo. Discursos podem tanto em seus efeitos quanto os eventos catastróficos, especialmente se destacarmos a força que sua pressão exerce sobre a psiquê humana.

Vemos, mas ignoramos os processos subliminares que vão se acoplando até nos impressionarmos com seres humano com os dedos nas armas de mão. São cérebros obnubilados por uma sequência de comandos manipuladores e destituidores da personalidade. Comparativamente, o crack, como outras drogas ilícitas e devastadoras, é infinitamente menos potente na despersonalização.

Talvez, um dos motivos para não questionarmos o uso dos discursos de ódio seja por que aproveitamos a chance para extravasar parcialmente a pressão a que somos submetidos. Não é incomum dar vazão a práticas de barbárie e efetuar uma catarse social. Vomitamos o que foi engulido à força: o alvo não importa, é apenas o esparro da vez.

Qualquer indivíduo com um mínimo de conhecimento crítico, especialmente das áreas humanas, pode avaliar a periculosidade de um sociopata no poder. Os exemplos históricos e recorrentes não dão conta de ensinar a identificar para evitar a repetição e, quando percebemos, o estrago está feito, uma sociedade inteira corrompida e submetida aos desmandos insufladores da desqualificação da vida humana. Há sempre o alvo, não se iluda.

Qualquer que estude o uso do poder, pode estabelecer a correlação inversa entre pressão emocional sob um indivíduo e sua desumanização. Amplia um, reduz o outro. Como na alegoria dos dois lobos, criamos um para ser mau e outro para ser bom, porém alimentamos um ou outro em acordo com os nossos interesses momentâneos — o que habita o coração se expressa na prática.

Reflita sobre isso: do exigir que o colega pense, se vista ou aja do mesmo modo que o grupo a que vocês pertencem, até o submeter à tortura (psicológica, emocional ou física) quem não coaduna com as suas verdades, o que perpassa é o ódio acumulado, nossas próprias desqualificações, inconformidades e desapontamentos.

Quando bem administrados, todos os fluxos tendem à complementaridade. Só que não conter esse lado obscuro da psiquê pode ser o ponto de desequilíbrio no universo pessoal e social quando se torna o elemento disparador de tudo o que há de mau na humanidade.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 18 de julho de 2015.

* Segundo o Michaelis, disruptivo é o que causa ou tende a causar disrupção; que rompe. A descarga disruptiva é o rompedor, o separativo, o separatório, o suspensivo, o interruptivo:
  • Como algo socialmente desejável, representa a transformação, a inovação.
  • Quando associado a um transtorno por desregulação do humor, expressa-se por comportamentos que tendem ao descontrole: frequentes explosões de raiva que se efetivam em violência física ou verbal.

Nenhum comentário: