Pesquisar este blog

22 de jul. de 2015

Enquadrar o indecifrável

Enquadrantes, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-07-2015.
Enquadrantes, criado em 21-07-2015.

* Estandardizar:
Desenvolver, estabelecer e reduzir a um único padrão; padronização; estabelecer modelos de fabricação; uniformizar.

É estranho, mas não me perturba mais a sensação de ser indecifrável, alguém que jamais terá satisfeita a necessidade de completude compartilhada. Mas houve muitos momentos — creio que para muita gente é assim, também — onde houve um profundo desejo por simpatia, por empatia, por aquela pequena dose de entendimento que ultrapassa as palavras.

Não fui o primeiro e creio que não serei o último a ter pensado que essa incompletude é algo ruim, por ser tão avassaladora, por provocar momentos onde a solidão que é inerente ao ser humano se faz presente, marcadamente poderosa.

Não à toa, muitos naufragam nessas águas, as de um desânimo que leva à depressão. É preciso sabedoria para identificar que um momento como esse é necessário para produzir um adiante na vida. Angústia é sinalização de que o se tem já deu o que tinha para dar, é preciso inovar, renovar, criar um outro si mesmo.

É onde a maioria trava, força aquela velha forma de enquadrar a vida, ignorando o que fica de fora da tela em que propôs expressar-se por completo. A sobra é o que pesa na alma, efeito dessa modelação*.

Estouramos a paciência como um saco que rasga ou balão que explode. Precisamos derramar o que aceitamos adentrar, incapazes de impedir: a venda nos olhos, a venda da alma, o envenenar diário dos sonhos e desejos. A aceitação mórbida dos padrões, dos referenciais estáticos, dos conceitos estandardizados. O tal mundo defendido como real a se contrapor com os ilusórios, os impossibilitados de existir, na fonte.

O arcabouço que produz o calabouço aonde o único núcleo verdadeiro do ser precisa se confinar para não ser tragado pela devastadora onda da mesmerização, da insana pressão coletiva para manter a reprodução como único modo de expressão.

Pouco a pouco, conforme se cresce, a gente envelhece e esquece. O que era mesmo o fundamental na vida? O que me tornava único e genuíno? Qual a raridade para acrescentar ao quebra-cabeça do mundo?

Não. Não desqualifique a chance de reintroduzir essa questão na sua vida! O que passou é passado; o que se perdeu, mesmo que encontrado, não possui o poder de resposta para a pergunta que ficou para trás. O que fazer? Não se paralisar. Presentificar-se enquanto ser. Entender que se há pulsação, há força de vida, há possibilidades. A amplitude da potencialidade, indefinível à priori, deve ter uma chance de expressar-se. Segundos vividos plenamente compõem o único caminho para a realização pessoal, independente do que se perdeu, do quanto se fragmentou.

Só mesmo reacendendo essa chama — luz e calor simultâneos — é possível encarar a frieza desse mundo e sua lógica destituidora de personalidade; superar a obscuridade ou a cegueira que nos conduz como cordeiros mansos e calados para o matadouro. Este sacrifício sem significado algum, apenas para exacerbar a hipocrisia coletiva: já que eu não posso, não vou permitir que você o possa.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de julho de 2015.

Experiências de vida e as resultantes diretas de atuações no ambiente produzem o repertório de comportamentos individuais. As descrições verbais oferecidas pela comunidade — regras ou instruções — fundamentam a constituição das peculiaridades de um ser humano, o modo de se comportar e possíveis consequências de suas ações. A psicologia comportamental definiu esse processo como modelagem.
Skinner, em Contingências do reforço: Uma análise teórica, conceituou comportamentos determinados por contingências como os configurados diretamente por resposta e consequências; os comportamentos governados por regras, os que ocorrem sob controle de estímulos discriminativos verbais.
Nos primórdios, os processos de imitação e modelagem permitiram a sobrevivência humana. Atualmente, é preciso colocar em xeque os mecanismos de regulação social, reforçadores e punidores, que visam apenas manutenção e adaptação.
Exemplos emblemáticos, como Gandhi e Mandela, transformaram a legitimação social da violência promovendo seriamente a possibilidade de aplicação da não-violência no âmbito do Estado e na regulação das relações internacionais.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Ele havia chegado a um momento da vida, variável para cada homem, em que o ser humano se abandona ao seu demônio ou ao seu gênio e segue uma lei misteriosa que lhe ordena destruir-se a si mesmo ou a superar-se". M. Youcenar.

Wellington O Teixeira disse...

Certamente, um momento crítico onde apenas a crítica ao imobilismo — ao risco da extinção — nos projeta mais que nos faz regredir. Para um ser pensante, a outra opção encontra-se desabilitada.