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6 de ago. de 2015

Espaço para transformações internas

Espaço interno, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 04-08-2015.
Espaço interno, criado em 04-08-2015.

Vazio
  1. sem o seu conteúdo habitual:
    Da passeata, restam latas vazias e cansaço.
  2. desocupado:
    Estão tornando o país uma casa vazia: sem móveis ou boas recordações.
  3. sem sua carga
    No metrô, vagões vazios carregavam alguns poucos protestantes.
  4. sem atividade humana
    Depois dos protestos, ruas vazias da cidade tinham as marcas de quem passou.
  5. sem algumas de suas qualidades primordiais
    A má política e a corrupção deixaram como consequência jovens vazios de ideais.
  6. sem força, efeito ou significado
    Com discursos vazios, as falas dos parlamentares não encontram eco na população.
  7. conjunto sem elementos (Matemática)
    O conjunto de números naturais múltiplos de pi é vazio.

Vou direto ao assunto: não dá para ser uma estrutura monolítica* se quisermos ter espaço para transformações internas. É preciso que os blocos ou pedaços de cada fase que vivemos tenham a chance de surgirem, de repente, e aflorarem ou emergirem ou voarem. Somos sim, uma pequena colcha de retalhos, alguns muito bem costurados, outros nem tanto.

É claro que é saudável manter uma estrutura firme que sustente essa vivência dos velhos costumes, mas ela precisa ser capaz de anexar o inusitado. O esperado de cada um pode e deve dialogar com o ainda não conquistado, com o que está em vias de ser em nós. Tipo quando você entra para um curso de formação qualquer, por exemplo, aprender marcenaria. Mesmo possuindo algum talento, é preciso aparar as arestas por dentro, tal como se faz com a madeira cá fora. Nesse processo, algumas práticas menos eficientes devem ceder lugar a outras que permitem ao potencial sua expressão máxima. Vale para tudo na vida, esse raciocínio.

Então, como há em tudo o que se conhece no mundo, é preciso identificar aquelas brechas — o espaço que se diz vazio — e adotá-las. Por elas irá fluir os elementos necessários. Nelas se constituirá a forma que será agregada àquela que se tornou básica, núcleo do ser.

O inusitado nos visita, aguarda um encontro e possivelmente ser absorvido. Isto pode acontecer ora por aprendizado, outra por sensibilização emocional ou espiritual. Como um sopro inspirador, como um fluxo de água a se deslizar, como algo a se escalar, como uma mistura a ser produzida para se constituir novas formas.

Só nas vivências percebemos quais experiências nos são necessárias naquele exato momento.

Destacar uma parte de si a cada momento é uma arte; dar expressão para ela de um modo satisfatório, mais ainda. O receio deve apontar para aqueles pontos de enrijecimento. São estes que se partem quando a estrutura se modifica. É preciso maleabilizá-los.

Ser humano é estar em contínua e infinita transformação, até que todas as possibilidades se esgotem para essa etapa ou ocorra um término repentino. Qualquer dos casos, nos conduz a desejar e buscar uma vivência plena, e esta só ocorre quando há evolução, desenvolvimento, crescimento e a percepção e satisfação de ter construído algo melhor para si e para o mundo: uma coisa chamada plenitude.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 05 de agosto de 2015.

* O homem é um animal segmentário. A segmentaridade pertence a todos os extratos que nos compõe. Habitar, circular, trabalhar, brincar: o vivido é segmentarizado espacial e socialmente.
(Gilles Deleuze e Félix Guattari — Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia, p.83)

[…] somos mantidos numa espécie de escravidão. A verdadeira liberdade está em um poder de decisão, de constituição dos próprios problemas: esse poder, 'semidivino', implica tanto o esvaecimento dos falsos problemas quanto o surgimento criador de verdadeiros.
(Gilles Deleuze — Bergsonismo, p.9)

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