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17 de mai. de 2014

Emoldurando histórias

Emoldurando histórias, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-05-2014
Emoldurando histórias, criado em 17-05-2014

Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.
E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.
Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.
Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.
Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.

(Bíblia— I Coríntios 12:4-12)


É tão bom poder registrar fatos da vida e realizar práticas que nos valorizam. Especialmente visando futuras boas recordações ou reacender sentimentos que produzem alegrias, reflexões e nos reafirmam a capacidade de superação.

Não. Isso não é um egoísmo, no sentido comum dado ao termo. É criar pequenos oásis na vida. Produzir estações aonde você pode ir para permitir-se, num breve momento de descanso, refrescar-se e reavaliar a jornada no arenoso cotidiano.

Nesta madrugada, aceitei a sugestão do Zidson Arduim e ouvi a gravação de uma palestra que recapitulava a questão do eu, com base nas práticas passadas (reconheço que eficientes à época), e que desqualificava algumas das teorias que embasam práticas atuais, em especial as que valorizam as capacidades e possibilidades de uma pessoa e incentivam seu desenvolvimento.

Exemplificando com inúmeros livros e projetos que visam auto-ajuda (adorei quando citou que esse auto relacionava-se ao faturamento do autor) questionou muitos destes ensinamentos. Me deterei na questão do espelho e do cultivo de um eu centrado em si mesmo.

De imediato, ponto para ele por ter encarado a questão do egocentrismo, remetendo-a à prática deletéria de glorificação da alegria e o denegrimento da tristeza e seu correlato na juventude contrapondo-se ao medo doentio do envelhecimento: um tudo deve estar maravilhosamente bem e belo para ser bom.

Fiquei, porém, detido a refletir sobre as consequências propostas por ele após a expansão do raciocínio inicial. Sinceramente, me vi tentado a dizer que usou de silogismo (premissa verdadeira, conclusões falsas ou não tão verdadeiras assim — por validarem apenas um determinado percentual do todo).

Questiono seu uso do texto bíblico do minimizar o Eu para que o Cristo sobressaia, uma vez que não foi contraposto aos que sugerem que o Cristo deve ser visto em você ou naqueles que propõem o investimento no crescimento pessoal (físico, emocional e espiritual) para tornar-se valoroso instrumento do Espírito.

É fundamental distinguir a vida centrada em um eu do imagético social (a todo custo, bem sucedido, lindo, sempre novo, feliz e disposto) do eu sustentador de um ser, aquele sem o qual a pessoa desaba, se desidentifica e perde a energia para vivenciar os acontecimentos da vida — tão bem representada pelo que considero ser a maior doença contemporânea: a depressão.

Dito isso, retorno ao que me propus escrever, isto é, produzir ações e pensamentos que me capacitem a encarar não apenas o cotidiano, mas constituírem-se um reservatório para aqueles momentos em que nos esgotamos em função das necessidades nossas e as dos que amamos.

Assumo de antemão que gosto da ideia dos quadros e das fotografias como uma alegoria desse pensamento. Geralmente porque estão associados aos nossos momentos de alegria, quando estamos descontraídos, acompanhados de pessoas que são do nosso agrado ou amadas. Uma pequena olhada e nos proporcionamos momentos de reconforto, sorriso, boas reflexões.

Produzir algo assim liga-se intimamente a uma atitude proativa de construir e vivenciar os momentos e permitir o cultivo de um eu não auto-centrado. Sólido em si, mas amplo o suficiente para entender que na composição com outros se dá uma multiplicação das próprias potências: capacidades que estão diretamente relacionadas à permissão de ser e estar compartilhando um mundo completamente imprevisível, extraordinário e infinito em possibilidades.

Meu ponto de vista defende que não é destruindo o eu, mas o qualificando que alcançaremos a verdade bíblica, pois nos aproximaremos dos parâmetros estabelecidos pelo próprio Cristo: como a si mesmo.

Sugiro que não deixe passar despercebido o fato de que ele estava nos dando a sua maior contribuição: o amor como a única e máxima referência da vida. Ele fez disso um revisionismo de toda a antiga lei — aquela do tirou-perdeu, matou-morreu, olho por olho.

O atributo que inseriu transforma-nos por uma nova perspectiva: a ampliação do entendimento de quanto melhor conseguir ser, quanto mais aprimoramento, quanto mais próximo da perfeição ou do máximo possível, melhor a contribuição realizada para toda a humanidade.

Nada mais do que construir um si mesmo amável, desejada e decididamente expansionista e coletivizador: Um por todos, logo, todos por um.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de maio de 2014.

* Dom Juan questiona a vontade de simplesmente fazer desaparecer a angústia da vida e os sentimentos confusos sem nenhum esforço para tal — algo bastante atual e representado pela medicalização da vida.
Se por um lado, Em casos extremos, um drinque permitia a um homem um momento de paz e desapego, um momento para saborear algo que não se repete., por outro, utilizar-se sempre do mesmo artifício, é fugir da realidade:
Você é demais - disse ele. Daqui a pouco vai pedir um remédio de feiticeiros para remover tudo que o aborrece, sem fazer nenhum esforço de sua parte, apenas o esforço de engolir o que lhe for dado. Quanto pior o gosto, melhor o resultado. Esse é o lema do homem ocidental. Você quer resultado, um poção e você está curado.
(Carlos Castaneda — O Lado ativo do infinito, p.126-127).

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