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2 de mai. de 2014

A mensagem do pombo correio

Pombo correio, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02-05-2014
Pombo correio, criado em 02-05-2014.

Solte-me para que eu possa voar por terras longínquas
onde há campos, árvores e montanhas verdejantes; flores, fontes e florestas:
um lar além do horizonte.
Pombo correio a voar além dos sonhos há muito esquecidos.

(tradução livre do trecho de Skyline Pigeon - Elton John*)


Uma vez citei a forma como as pessoas assimilam músicas que tocam a sua alma transferindo-as para as suas relações pessoais, referindo-me a um costume entre pares de namorados. Não me ocorreu, na época, um outro uso. Um que me foi revelado apenas hoje, por conta de um depoimento feito por um sobrinho para seu tio que havia falecido.

Meu filhote Claudinho narrou o momento quando Paulo Roberto o ensinou a primeira música em inglês que havia aprendido, com isso, reproduzindo nele a mesma experiência - já que foi, também, a sua primeira.

A música é um fio condutor do espírito, produz um nível de sensibilidade cujo espectro ultrapassa palavras. Porém, o que me sensibilizou tanto não é o fato de que a experiência tenha se reproduzido ou que seja a primeira. É a disponibilidade em uma relação familiar para partilhar vivências e abrir portas novas, ocorrendo entre um tio e um sobrinho.

O convívio com os meu sobrinhos é uma das coisas na vida que mais me dão prazer. Para nós, brincar, discutir, analisar faz parte de todos os nossos movimentos juntos. Sempre um movimento aberto para a franqueza e compartilhamento dos fluxos de alma.

No caso do Claudio, a recordação acontece após cerca de 40 anos daquele movimento conjunto e, na narrativa do meu amigo, tornou-se aquela que retornou, no momento da morte do tio.

A letra da música, certamente, tinha correlação com o momento. No entanto, não creio que apenas isso bastaria - há tantas outras que falam do mesmo tema -, uma marca assim se aprofunda e só ganha sentido com a maturidade, com o entendimento de que os momentos são fugidios, evaporam facilmente. E aqueles momentos que não trazem algo para o nosso caminho se perdem pela estrada.

Desejei retratar a mensagem da música com um quadro com traços claros e fundo bem definido: um pombo voando pela linha do horizonte. E foi o que eu fiz. Isto é, até que reli o depoimento de despedida. Na dureza de um sentimento de perda, a dor muitas vezes se escamoteia em palavras exatas, traduções rígidas e, com isso, perdemos a aura poética, espiritual e emocional que sempre ronda a questão vida e (vida-pós) morte.

Voltei ao projeto e o refiz utilizando de aquarelas e movimentos sinuosos - como são os nossos caminhos de vida, como são os nossos pensamentos em momentos como esse, como entendi ser o intento dele ao utilizar de um instrumento de expressão de si para os familiares (muito além do de para si mesmo). Escolhi, para manter o mesmo grau de inferência, refazer a tradução feita por ele da música. E os correlacionei. Desejei reafirmar o seu entendimento de que hoje é o dia em que ele [o tio] pode estender suas asas e voar novamente.

E o que era para ser apenas uma postagem na rede social, generalizou-se, tornou-se um motivo de questionamento e, por isso, um texto do Ser Pensante. Explico. É aqui que eu penso o mundo que meu mundo produz, sob a única e exclusiva ótica que eu tenho: eu mesmo.

Mas saliento (e digo isso com toda a clareza, pois meu filhote sabe) porque ele sempre é parte do meu mundo: simplesmente doeu em mim, também.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 01-02 de maio de 2014.

* Os trechos da música utilizados aqui são:
Turn me loose from your hands Let me fly to distant lands
Over green fields, trees and mountains, Flowers and forest fountains
Home along the lanes of the skyway

For just a Skyline Pigeon Dreaming of the open
Waiting for the day He can spread his wings And fly away again

Fly away, skyline pigeon, fly
Towards the dreams You've left so very far behind.


a música encontra-se disponível em: http://letras.mus.br/elton-john/64492/

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