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6 de mai. de 2014

É preciso aprender a sofrer

Aprendendo a sofrer, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 06-05-2014.
Aprendendo a sofrer, criado em 06-05-2014.

O sofrimento proporciona-nos a melhor protecção para a sobrevivência,
uma vez que aumenta a probabilidade de darmos atenção aos sinais de dor
e agirmos no sentido de evitar a sua origem ou corrigir as suas consequências.

António Damásio — neurocientista.


Dor física ou moral, padecimento, amargura, desgraça, desastre, agrura, desconsolação, desgosto, mágoa e pesar. Não importa seus sinônimos, o sofrimento é algo que atinge a todos. É preciso aprender a sofrer.

Engraçado dizer isso. Sempre que eu uso essa expressão, logo me contradigo dizendo 'Engraçado não, interessante!'. Tem certas coisas que, por mais que a gente queira, repete e não abre mão porque fazem parte de nossa alma. Inclusive o modo de sofrer. Cada um tem o seu, e não é preciso muito esforço para encontrar suficientes elementos da psicologia para afirmar tal fato.

Tendemos a repetir algo que funcionou, de alguma maneira, em uma determinada oportunidade. Pela crença de que irá funcionar sempre ou como uma estratégia de começar tentando por aquilo que já foi eficaz — tipo um determinado remédio que seu corpo se adapta melhor.

Podemos comparar com a fé de que após a noite o dia chegará. Bem, até é muito provável que a terra complete seu ciclo, assim como o fato de estar vivo para apreciar tal acontecimento. Mas isso não é uma certeza absoluta.

Algumas tendências de pensamento afirmam que diante da ausência de algum elemento básico à sobrevivência criamos um reflexo conceitual e passamos a vivenciá-lo: é o entendimento ou surgimento da perda ou da falta. Há correntes na psicologia que definem esse processo como fundamental para a formação de um ser humano.

Dependendo do estado de espírito circunstancial, o efeito pode ser algo simples e superável rapidamente ou — me confirmem os que lidam com tendências depressivas — pode causar um estrago emocional desproporcional.

O que surpreende é a maneira como lidamos com aquilo que nos causa dor: calados, resmungando, chorando, gritando, e por aí vai o leque de opções que caracterizam cada um.

Apesar de, na maioria das vezes, não termos a chance de evitá-la, podemos encarar a dor por meio de um filtro racional: ela é parte da vida, é um elemento necessário ou formador de nós mesmos. E para nos ajudar, citar um exemplo simples como as injeções em momentos de doença.

Não tão simples, são as dores ligadas aos problemas de relacionamento — especialmente os de longa duração. Farta literatura romântica ilustra casos de que alguém tornou-se uma parte de si e seu afastamento é imediatamente sentido como sofrimento. Casos de separação, divórcio ou morte são exemplares. Esse último, que produz separação definitiva, exige uma nova forma de lidar, uma vez que cada ser humano e suas relações conosco são muito diferenciadas.

Quaisquer filtros que apliquemos ficam aquém do que o luto produz. Por isso, há apenas uma forma de reagir: aprender a sofrer.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de maio de 2014.

* Filtros são entendidos aqui como elementos que protegem ao mudar a configuração do que se percebe, assim como óculos escuros em ambiente ensolarado.

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