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20 de fev. de 2016

Dicionarizando o relacionamento

Dicionarizando, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 20-02-2016.
Dicionarizando*, criado em 20-02-2016.

Disseste uma coisa bonita, Adso, agradeço-te. A ordem que nossa mente imagina é como uma rede, ou uma escada, que se constrói para alcançar algo. Mas depois deve-se jogar a escada, porque se descobre que, mesmo servindo, era privada de sentido.
(Umberto Eco — O nome da Rosa, p.553)


É de uso corrente, que uma corrente pode prender alguém, até mesmo uma corrente elétrica. Difere da água corrente que expressa liberdade e fluidez. Lembra-se da infância, quando mandavam vestir a camisa por causa da corrente de vento que resfriava?

A palavra — corrente, no parágrafo anterior — ganha sentidos diversos de acordo com o contexto em que for usada. Essa multiplicidade de sentidos é essencial à arte, à música, à poesia. À vida. Dar sentido a algo que foi dito pode ser uma tarefa extremamente difícil, mas é um desafio à altura dos que não aceitam a limitação.

Esse entendimento deveria embasar os encontros visando a construção de relacionamentos. Ao mesmo tempo em que é fundamental haver diálogo e exercer críticas construtivas, é preciso ter um instrumento para evitar interferências indevidas e o desrespeito ao outro. Falas invasivas e desqualificadoras produzem a desconstrução de um relacionamento.

É preciso esclarecer ou dar novos sentidos às falas, formas, aos gestos e às práticas, ressignificando-os e ampliando o dicionário particular de cada um para torná-lo coletivo. Chamo isso de dicionário relacional.

Certamente, no início poderá haver um certo engessamento. Há momentos em que o signo precisa ter apenas um significado. Combinar o que significará determinado vocábulo ou expressão vai retirá-la do mal dito, do mal entendido, do confuso. Mas entenda bem, isto é algo a ser feito em comum acordo.

Primeiro, e mais importante, é preciso determinar uma expressão ou palavra que faz tudo parar, congela o mundo. Ela será usada nos casos onde, mesmo não havendo a intenção, alguém se sentir agredido. Forçar o diálogo levará ao ponto em que só o ódio fluirá. Melhor afastar-se, dar um tempo, deixar esfriar.

Coisas ou situações que por um instante parecem valer muito, após alguns instantes perdem a sua importância. Outras sem importância, quando cultivadas ou expressas na mágoa ou no ódio, tornam-se suficientes para destruir vidas. Portanto, inicie esclarecendo o que causou o mal estar, só depois retorne ao diálogo. Avançar nesse processo é fazer o encontro ser pleno e íntegro, um exemplo de superação a ser recordado durante toda a vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 20 de fevereiro de 2016.

* Notas

2 comentários:

CATARINA disse...

Belo texto, Wellington.

CATARINA disse...

Belo texto, Wellington.