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12 de fev. de 2016

Vazios configuráveis

Vazios configuráveis, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12-02-2016.
Vazios configuráveis, criado em 12-02-2016.

Os psicólogos reconhecem que os custos irrecuperáveis (*) podem afetar as decisões devido à aversão à perda. O preço pago no passado acaba sendo visto como uma referência para o valor presente e futuro, embora o preço pago seja e deva ser irrelevante. Desse modo, esse seria um comportamento não racional. As pessoas ficam presas ao passado, tentando compensar decisões ruins e recuperar as perdas.
Estudo clássico avaliou apostadores e patrocinadores de cavalos, antes e depois da aposta realizada. A hipótese dos pesquisadores se confirmou: depois de comprometer $US2, as pessoas ficavam mais confiantes de que a aposta se pagaria.

(Adrian Furnham — Quando você já investiu demais para desistir, p. 126, OBS: o último parágrafo foi resumido)


Muitas pessoas com relacionamento estável desconfiam de novas configurações na vida. Evitam tentar o diferenciado, o inusitado. Quem sabe, por trás disso, uma crença no encaixe perfeito, no quadro acabado, um quebra-cabeça completado, metades complementares.

Atritos à parte — necessários porque sem eles as arestas insignificantes machucam profundamente —, desencontros são a sinalização de que os participantes do encontro se reconfiguraram, pois assimilaram das experiências o aprendizado necessário para seu desenvolvimento pessoal.

Ensinados a temer as incompletudes, nos incomodamos ao ver os espaços vazios. Ilógico, pois é algo que deveríamos buscar, já que permitem a mobilidade e a transformação: ventilação que impede a asfixia. O espaço dos encontros que estabelecemos espelham nosso desenvolvimento pessoal e permitem um vislumbre de quem o outro está se tornando.

A proposta (não uma regra!) é a compatibilização dos pontos de conexão ativos e fugir à adaptação.

Entenda a variação dos pontos ativados como alterações provocadas pela aleatoriedade da vida: o tipo de humor diário, o nível de energização, a capacidade de lidar com os elementos mais distanciados do ponto de encontro, mas capazes de gerar uma influência na composição.

Alguns encontros, inicialmente potencializadores, podem tornar-se tóxicos quando as dosagens de presença das partes se altera em níveis muito dessincronizados. Momento de refletir, avaliar o potencial e o modo de inclusão ou permanência nele — amizades eternas se formam de paixões, especialmente na velhice.

Somos indivíduos que devem absolutamente iniciar em si os construtos para seu aperfeiçoamento, de modo a poder refleti-lo nos encontros. Se isso não é feito, o encontro não mais tem efetividade, é apenas decorativo (da ordem das aparências) e intoxicante. Não tenha dúvida: isso cobra um preço muito caro.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de fevereiro de 2016.

* O desenvolvimento do avião supersônico Concorde, entre 1950 e 1960, demonstrou em determinado momento sua insustentabilidade econômica. O projeto da francesa Aerospatiale e da britânica BAC colocou em operação apenas 14 unidades, mas o 'boom sônico' (rompimento da barreira do som) levou à proibição mundial de voos supersônicos sobre continentes.
Apesar do fracasso, o erro nunca foi admitido pelo governo britânico, que sustentou um desastre econômico visando manter a realidade política. Uma péssima decisão baseada no poder das aparências: o Efeito Concorde.

2 comentários:

Anônimo disse...

O problema é que muitas vezes a convivência vai se tornando toxica lentamente, sem disparar alarmes. Vale a velha metáfora do sapo, que pula quando colocado diretamente em água quente, mas fica inerte quando posto na água fria que lentamente tem sua temperatura elevada.

Wellington O Teixeira disse...

Essa percepção de lentidão, pode definir que houve ações efetivas de equilíbrio, mas que não conseguiram resolver o fator principal.
Assim, reconhecer que não se foi eficiente no relacionamento é algo de mão dupla.
Mas, não se deve deixar de entender que interesse e as forças que o mantém não são tão eternos quanto se quer fazer acreditar com os contos de fadas...