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9 de abr. de 2015

Encare a autoinsuficiência

Autoinsuficiência criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 09-04-2015.
Autoinsuficiência, criado em 09-04-2015.

Colaboração difere de cooperação pois é uma filosofia de interação e um estilo de vida pessoal. Cooperação é uma estrutura de interação projetada para facilitar a realização de um objetivo ou produto final. A Aprendizagem Colaborativa, como filosofia de ensino, ultrapassa técnicas para a sala de aula. Visa uma menor intervenção do educador e, por consequência, propiciar mais responsabilidade ao estudante.
Um exemplo é reunir em pequenos grupos alunos de níveis diferenciados de performance para alcançar uma única meta. Incentiva-se um modo relacional que respeita e destaca as habilidades e contribuições individuais; o compartilhamento de autoridade e a aceitação de responsabilidades nas ações do grupo.
Como premissa, a construção de consenso por meio da cooperação entre os membros do grupo, contrapondo-se à ideia de competição, na qual alguns indivíduos são melhores que outros.
Os que adotam a filosofia da Aprendizagem Colaborativa aplicam seus conceitos em qualquer relacionamento: em sala de aula, reuniões de comitê, com grupos comunitários, dentro de suas famílias e com outras pessoas.

(Ted Panitz — A Definition of Collaborative vs Cooperative Learning*)


Por mais que busquemos segurança no que temos, desejamos ou fazemos, não há como manter esse estado sempre. Estruturalmente somos constituídos por parcialidades, incompletudes, impossibilidades. Mas, diariamente, entramos em um processo de negação insana desse fato. Assumimos práticas, discursos, ideias que tentam projetar uma autonomia que não temos para refletir. Produzimos uma holografia de nós — a aparência — e nela pautamos nossa vida. No fim das contas, só nos resta crer estar fazendo o melhor.

Vivemos de expectativas, de sonhos e de crenças. O dia amanhece ensolarado, com promessa de luzes e cores e sentimentos incríveis. De repente, o céu nubla as cores desbotam e a tempestade cai. Por que tentamos forçar que os sentimentos permaneçam inalterados?

Construímos a vida comprometidos com princípios que, apesar de genuínos, são incapazes de abarcar a realidade. Nossos sentidos são incríveis, nosso cérebro capaz de pensamentos complexos… mas tudo isso é gerenciado por uma razão frágil, incapaz de dar conta dos mundos micro e macro existentes. Por que insistir no controle de tudo e em determinar verdades?

Encontros que ganham intensidade e ocupam extensas áreas de nossas vidas são estabelecidos como eternos — é bem verdade que sem as ilusões ninguém vai adiante; sem a promessa do prazer (em qualquer momento que seja) paramos — mas tudo se resume ao nosso esforço pessoal.

A originalidade humana é a de constituir, reformular nossa visão de mundo; do indefinível ao supostamente conhecido, gerar a energia que impulsiona indivíduos, pequenos grupos sociais ou a humanidade. Uma energia esplêndida que, caso não fosse cooptada por interesses alheios, já teria elevado nossas capacidades em prol do bem comum.

Diariamente, direcionamos nossas capacidades para a produção de riquezas, quase que exclusivamente de cunho financeiro. As interconexões estão marcadas pelo signo do cifrão. Qualificamos alguns, desqualificamos a maioria (os semelhantes a nós!). Viramos capatazes dos novos senhores intercontinentais porque isso nos dá a ilusão de proximidade com esse poder. Reproduzimos seu modo de nos subjugar e perpetuamos seu poder. Educamos crianças desse modo, apenas para satisfazer ao mercado de trabalho.

É o medo de encarar a nossa autoinsuficiência. Fomos programados culturalmente a viver na individualidade e no egoísmo e a temer o compartilhamento**. Esquecemos que foi a colaboração que nos trouxe até aqui. Sem que expandíssemos por compartilhamento os conhecimentos, as capacidades e habilidades individuais, a produção atual em todas as esferas estaria muitos graus abaixo.

A era da internet pode estabelecer a colaboração como o elemento mais prioritário à raça humana se conseguir suplantar o ensino aprendizagem reprodutor. Se ninguém sabe tudo, então, por que não reunir aquilo que se sabe para o conhecimento seja estruturado por acréscimos? O sequenciamento do DNA humano é apenas um exemplo do que já conseguimos com colaboração e os avanços para o bem de todos podem alcançar muito mais. Mas continuamos aprisionados à ideia de suficiência individual. A quem interessa isso?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de abril de 2015.

* Esse é apenas um resumo dos principais tópicos. O texto completo encontra-se em:
http://ccti.colfinder.org/sites/default/files/a_definition_of_collaborative_vs_cooperative_learning.pdf

** A cooperação na relação mestre e aprendizes ou na produção de bens para sustento familiar foi substituída pelo controle das atividades de produção a partir da ascensão do capitalismo e o fordismo. Com ele, a individualização e a especialização definiram uma nova rota no aprendizado onde entender e participar de um todo não tinha mais utilidade, nem deveria ser incentivado.
Com o advento da internet, sistemas colaborativos especializados surgiram e foram aprimorados, facilitados pelo surgimento da Web 2.0 e da disseminação de licenças livres.

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