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14 de abr. de 2015

Consumo que nos consome

Consumidos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14-04-2015.
Consumidos, criado em 14-04-2015.

A alienação é a principal dimensão do consumismo, está na base da compra desvinculada da necessidade e do desconhecimento em relação ao valor de compra e de uso.
(Juliana Spinelli Ferrari — Consumismo, artigo em Brasil Escola)

Nossa escuridão alcançou níveis insuportáveis. Estamos escravizados de inúmeras maneiras e cada vez pedimos por mais e mais escravização*. O olhar precisa estar preso à tela para impedir que, ao olhar ao redor, nos situemos nesse mundo. Para alguns, ignorar já não é mais opção, tornou-se necessidade, do contrário a imobilização os toma. A desolação já nos encontrou na forma de fundamentalismos, de desagregação, de obsessões, da exploração, da manipulação, das apropriações e desapropriações da vida.

E, é claro, é preciso bloquear a visão do sangue que escorre no mundo e entra pelas nossas casas. Mesmo sendo de irmãos e irmãs submetidos às torturas e mortes, lentas ou rápidas, destituídos de sua própria humanidade.

Diariamente, a terra clama. Seu grito reflete a dor de todos os seres que abriga. Um dia ela sacudirá de sua superfície o causador dessa dor, não é preciso nenhuma profecia apocalíptica para perceber isso.

Entorpecer a consciência não produz o mesmo efeito de antes, é preciso aumentar a dose da droga ou encontrar uma mais forte. A escalada não é infinita e, logo, a overdose nos encontra. Contraditório como a vida, não dá para se alienar, mas é preciso alguma forma de alienação.

E no meio dessa confusão, mar revolto das ilusões e das falsas promessas de vida encantada e feliz oferecida pela posse de bens fúteis e obsolescentes, vamos para as ruas exalando o novo perfume, roupa nova e aparência e ego inflados pelas propagandas. Cada um é um príncipe ou princesa a espera da tal noite reluzente.

Antes de sair, empurra-se para bem fundo, no baú das incompletudes, o gosto amargo do vazio. Copos, fumaças, pós, picadas ou pílulas recobrem a vida com um manto de brilho e cores artificiais. Aposta-se na oportunidade única que se oferece para ser feliz e, com brilho nos olhos, compartilha-se a negação dessa miséria toda por uma noite ou por um dia. Quem sabe é o relacionamento vai permitir escrever no status 'amor pra sempre'? Amanhã, quando o efeito terminar, basta trocar. Parece doloroso, e é. Mas tem sido a escolha de muitos quando a outra opção é encarar a vida fora das telas e vitrines.

Cada ato que ultrapassa a covardia e a aceitação cabisbaixa do que aí está — como se fosse intransponível ou intransformável — nos torna mais aptos, mais capazes, mais fortalecidos para dar novas cores ao mundo, com sonhos pessoais e metas para o bem comum, não ilusões fabricadas para enriquecimento de quem a produz e o próprio empobrecimento físico e espiritual.

Inventar uma forma de vivência diária onde seja possível compartilhar as mazelas e inquietudes, produzir transformações onde se está e, quem sabe, mais adiante. É isso o que é preciso para se adicionar cor à vida, não apenas fabricar sonhos de consumo para ser consumido por eles. É uma decisão pessoal e exige muita força de vontade. Mas é possível!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de abril de 2015.

* Mais uma dose? — É claro que eu estou a fim. A noite nunca tem fim. Por que que a gente é assim?
(Barão Vermelho — Por que que a gente é assim?)

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