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14 de jul. de 2014

Moitidis

Moitidi, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14-07-2014.
Moitidi*, criado em 14-07-2014.

O Destino é uma sucessão inevitável de acontecimentos que conduz a vida
de acordo com uma ordem natural, onde nada que existe pode escapar.
Na mitologia grega, as três irmãs responsáveis por fabricar, tecer e cortar
aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos eram as Moiras.
Seu tear chamava-se Roda da Fortuna que em suas voltas posicionam o fio do indivíduo
ora na parte superior, ora na parte inferior, explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte,
o auge e o fundo do poço de todos nós.


Vamos admitir em um puro exercício de imaginação que houvesse um destino traçado para cada um de nós. Tracejado, indicando uma rota. O preenchimento dos espaços vazios ficando por conta das vivências, como o conceito de meta valorizado no mundo atual.

Lamento dizer que essa ideia tão sedutora apenas criaria uma ilusão de liberdade, de escolhas, de propósito.

Talvez influenciados pela morte inescapável ao final de qualquer trajetória, é isso que constantemente boa parte de nós utiliza como desculpa para minimizar a grande responsabilidade que é gerir, por si mesmo, a própria vida ou se livrar da carga de pensar na inutilidade de muito dos sacrifícios aceitos ou exigidos de si mesmo.

Criamos um moitidi, um destino e o culpabilizamos para nos isentar do complexo mundo das possibilidades. Inventamos o revés e o azar para justificar escolhas falhas ou que não resultaram em nosso desejo satisfeito. Construímos um paraíso ou a perfeição para escalarmos nossas conquistas.

Entendo a produção na psiquê do vislumbre de um futuro melhor, o que se denomina de esperança, que age como uma isca a nossa frente para nos levar adiante. Está na estruturação atual de nosso dna como um construto chamado sobrevivência. Nele, tudo o que você imaginar é possível, até a destituição completa de qualquer verniz de moral ou de civilidade, simplesmente porque essas práticas foram adotadas em função da necessidade do convívio, da reprodução, da proteção e da percepção de que, em grupo, o projeto de sobreviver seria facilitado.

Civilidade durou até o momento em que a lei do mais forte voltou a imperar. Demos um passo atrás no nosso desenvolvimento e abrimos espaço na natureza para uma prática inexistente: matar por divergência, por diversão e toda e qualquer forma de preconceito.

A dominação de territórios já fazia parte de uma grupalização — inclusive para a propagação de um dna do mais apto a sobreviver — que permitia o controle do assédio de predadores ousados.

Agora nos tornamos nossos maiores destruidores. Eliminamos inclusive da ordem da natureza a sobrevivência em troca do 'quero mais, muito mais pra mim', do acúmulo do desnecessário. Destituímos as coisas de seus valores intrínsecos e as carregamos de um desejo de superioridade: uma marca vale mais que o produto. E conseguimos fazer com que esta ilusão fosse compartilhada, tornando-se a dominante, ao ponto de que, se você não tem, mate para obter.

Futuro para que?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de julho de 2014.

* No terceiro dia, quando o sol tocou a forma novamente, ela abriu aqueles olhos e enxergou o mundo. "Eu sou Cénzi", disse a criatura, "e esse lugar é meu". E ele então se levantou e começou a andar…
Este é o início do Toustour, o Conto Supremo. Com o tempo, conforme a história da criação continua, Cénzi sente-se solitário e cria companheiros, os moitidis, feitos a partir do sopro de seu corpo, que ainda continha o grande poder de Vucta. Esses companheiros, por sua vez, imitam seu criador e dão origem a todas as criaturas vivas da terra: plantas e animais, incluindo os humanos. Os próprios sopros dos moitidis eram fracos, e portanto suas criações saíram igualmente imperfeitas. Mas o sopro de Cénzi e os sopros mais fracos dos moitidis permearam a atmosfera e tornaram-se o Ilmodo que os humanos conseguiram aprender a moldar através da reza, devoção a Cénzi e intenso estudo.
Mas o relacionamento entre Cénzi e sua prole sempre foi litigioso, marcado por conflitos e inveja. Cénzi fez várias leis para suas criações seguirem, mas, com o tempo, os moitidis começaram a mudar e ignorar essas leis, e vangloriaram-se em relação a Cénzi. Cénzi ficou furioso com os moitidis por conta dessas atitudes, mas eles não se arrependeram e começaram a se opôr abertamente ao criador. Foi um conflito longo e brutal, e poucas criaturas vivas sobreviveram ao embate, pois naquele passado havia muitas criaturas vivas capazes de falar e pensar.[…]

(S. L. Farrell, O Trono do Sol — A magia da Alvorada — primeiro livro da trilogia O Ciclo Nessântico, p.572-573)

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