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7 de jul. de 2014

Pensando objetivamente

Objetiva, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 04-07-2014
Objetiva, criado em 04-07-2014.

Mas cada homem não é apenas ele mesmo;
é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar,
no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais.

(Hermann Hesse - Demian, p.7)


Objetivas são como um olho que se abre e captura a imagem do desejo do fotógrafo. Permitem reter e presentificar, para a posteridade, um instante que está se tornando passado.

Alguns imaginam que o encantamento com a tecnologia esteja no fato de ser uma reprodutora do mecanismo humano da memória, mesmo que infinitamente menos potente pelo fato de que esta retém como conteúdo muito mais que imagens, porém possui como ponto fraco o fato de que nosso cérebro altera as memórias retidas de acordo com as condições, inclusive emocionais.

Por si, este fato nos torna péssimos recordadores, mesmo que detalhistas, já que o impacto produzido e a emoção impregnada é o que mais importa na retenção e manutenção do conteúdo. Somos, por assim dizer, ludibriados pelas nossas recordações.

O nome que qualifica o instrumento de captura nos remete à objetividade necessária das câmeras fotográficas: quando a memória desbota os fragmentos de uma lembrança, uma foto ou vídeo a pigmenta outra vez.

Seu uso como um instrumento auxiliar permite não apenas ao autor mas a seu grupo de referência acessar dados e estruturar informação.

Como reconstituição histórica ultrapassa um indivíduo injetando no coletivo um referencial que, a partir do modo como for usado, pode influir na construção de possíveis futuros. Filósofos da antiguidade alertavam que muito pode ser aprendido avaliando-se um passado — no mínimo, evita-se cometer erros semelhantes.

Em uma via bem promissora, o mundo irá utilizar-se cada vez mais de construtos imagéticos. Os mundos virtuais — já existem museus, bibliotecas e logo virá bem mais — tornarão mesmo pessoas com graves deficiências físicas viajantes potenciais. Na formação acadêmica de profissionais, antropólogos, engenheiros, médicos e professores já utilizam o recurso, e há potencial para a geração de possíveis novas profissões.

Num mundo onde essa proposta permeie o cotidiano das pessoas, recordações serão reconstruções predeterminadas escolhidas por quem quiser vislumbrar, de outra forma, a realidade. Objetividade será apenas o objetivo desejado por quem se aventurar a experimentar.

Por mais que pareça futurístico, essa visão não está muito distante, e assemelha-se aos processos do mundo das nossas lembranças e das extrapolações temporais (projeções, sonhos, invenções) que fazemos diariamente.

O temor, como sempre, recai no uso voltado para controle social ou bélico: o brilhantismo do ser humano só se iguala a sua imbecilidade.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de julho de 2014.

* Para aqueles que gostam da fotografia digital, conheça um pouco mais desse mundo em
http://www.tecmundo.com.br/camera-digital/2299-objetivas-para-fotografia-digital.htm

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