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19 de jul. de 2014

A construção das ervas daninhas

Ervas daninhas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-07-2014.
Ervas daninhas, criado em 17-07-2014.

Um lema mais apropriado para o nosso futuro está nas memórias do estadista Otto von Bismarck. Ao final de sua longa vida, ao refletir sobre o mundo à sua volta, ele tinha motivos para ser cético. Dono de um intelecto agudo e tendo trabalhado no centro da política europeia durante décadas, Bismarck testemunhara a repetição desnecessária de erros tão grosseiros quanto os que prevaleceram nos primórdios da exploração da Papua-Nova-guiné. Mas ele pensou que valia a pena escrever suas memórias, extrair lições da história e dedicá-las "aos [meus] filhos e netos, para que compreendam o passado, e como um guia para o futuro.".
(Jared Diamond — O terceiro chipanzé: a evolução e o futuro do ser humano, p.362)
A natureza produz perfeitamente um conjunto harmonioso de criaturas que, sem a interferência humana, estabelece o equilíbrio das relações.

Alguns dos seres valorizados hoje eram itens desqualificados em gerações anteriores, considerado impróprio, daninho. Porém, o desenvolvimento dos estudos a seu respeito localizou a sua participação nas interrelações necessárias. A descoberta da pura ignorância de quem estabeleceu o contrário: tudo tem o seu valor.

Não vou, pelo menos nessa reflexão, exemplificar para clarificar. Prefiro admitir a sua capacidade de avaliar elementos, situações de sua referência para, caso deseje, constatar as questões que apresento.

Mesmo assim, estabelecerei duas definições sobre o que é danoso:
  1. danoso é o preconceito, considerar sem avaliar, estabelecer sem identificar os limites clarificando a zona de alcance do que é falado;
  2. danoso é utilizar o desconhecimento, a ignorância como trampolim para extrapolar quaisquer considerações razoáveis em prol de si mesmo, de seus próprios valores, do controle social do seu círculo de convivência.
A natureza, como se apresenta atualmente, possui grande diferença relativa aos tempos primórdios. Sua transformação — que insistimos qualificar como evolução para nos considerarmos superiores — exigiu a adaptação às novas circunstâncias, a criatividade, a constituição de alianças anteriormente desnecessárias em prol da sobrevivência como um todo.

A desconstrução desses mecanismos e estratégias tem conduzido, por séculos, à valorização da prática da dominação e subjugo como prioritárias. Para conseguirmos concordâncias, plantamos ideias e constituímos argumentos para as tornarmos hegemônicas, em sua maioria utilizando a combinação desinformação e medo.

Desinformação não como ignorância. Desinformar como prática de desqualificar uma informação, cuja palavra que mais se aproxima na atualidade é manipulação. Fornecimento de pressupostos que induzem à falsa avaliação. Por conseguinte, à sua adesão, participação e propagação. Simplificando, a geração de reprodutores de discursos.

A homogeneização como ditadura do pensamento, da diversificação, do desrespeito às diferentes formas de ser e estar no mundo se constitui com a construção do perverso, do errado, do pecaminoso, do reprovável, do danoso: se eu quero o trigo, tudo mais se torna joio.

Esquecemos a lição da sobrevivência das espécies, inclusive a humana, onde toda extinção se propagou. A inexistência de um elemento qualquer gera consequências graves em toda a cadeia alimentar. Cada morte se propaga e reflete-se para além do ser atingido. O equilíbrio exige harmonias de contrários, que, sob esse ponto de vista, são apenas complementares.

Há uma infinidade de mundos, mas tudo é um único universo, o grande poema de um verso só: vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de julho de 2014.

* Para o meu povo, cada parte da terra é sagrada. Cada agulha brilhante de pinheiro, cada franja de areia, cada bruma nos bosques escuros, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e na experiência do meu povo… O homem branco… é um forasteiro que chega à noite e tira da terra o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga… Continue contaminando o seu leito e uma noite você sufocará no seu próprio lixo.
(De uma carta enviada pelo chefe Seattle, da tribo duwanish de índios americanos, ao presidente Franklin Pierce, em 1855.)

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