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7 de jul. de 2014

Um ideal de convivência

Silhueta,  criado por Wellington de Oliveira Teixeira entre 04 e 07 de julho de 2014
Silhueta, criado entre 04 e 07 de julho de 2014.

Os homens devem moldar seu caminho.
A partir do momento em que você vir o caminho em tudo o que fizer,
você se tornará o caminho.

(Bushido O Código Do Samurai – Daidoji Yuzan)


Silhuetas me fascinam, especialmente quando o foco central está bem protegido por sombras. Não gosto, do mesmo modo que na fotografia, do preto e branco apenas. A opção por uma tonalização monocromática permite iluminar e sublinhar a diferença entre os detalhes de cada elemento.

Minha busca de aprendizado encaminhou-me à milenar arte japonesa — volto para lá meu olhar em busca de inspiração. Não é a primeira vez. Comecei a avaliar esses elementos, me prendendo à ideia subjacente ao Último samurai de buscar a perfeição em cada gesto, sem pressa, cercando ritualmente de beleza os pequenos detalhes da vida. O, literalmente caminho do guerreiro, Bushido *.

Prática que também capturou meus sentidos em História de um gueixa, quando o duro aprendizado dos cerimoniais de relacionamento se elevavam a níveis da sedução artística — onde cada quimono, gesto ou toque recebia uma ornamentação merecedora de ser considerada obra de arte. Alí, o que não se mostra ou o é feito de forma muito sutil e parcial é o que se valoriza.

A busca por algo semelhante — já afirmo que não me atreveria jamais a correlacionar meus desenhos àqueles — me conduziu por uma demorada jornada. Exigiu jogar fora versões belas e interessantes por estarem ainda impregnadas de ocidentalismos. Meu ponto de partida real foi um pensamento — mais para intuição — de que não um elemento, mas a justaposição entre eles deveria criar o sentido de completude. E comecei a retirar dos aproximadamente vinte quadros anteriores os elementos que os sustentavam e a reuní-los como em um quebra-cabeças de modo que as transições fizessem sentido.

O porque de me dar tal trabalho é simples: há muitas peças soltas, pontas que sobram e não encaixam na vida de cada um de nós e, geralmente, permitimos que assim continue — parecem não atrapalhar.

Questões que só surgem quando o atrito ocorre, quando uma sobra impede o encaixe perfeito e o encontro não se sustenta mais por si mesmo, como a queda de um alinhamento de cartas ou dominós. É preciso desfazer o trançado da tapeçaria, retornar ao ponto, desfazer a diferença e voltar a tecer tudo novamente.

Parece-me com um pedir desculpas que, sendo aceito, proporciona um novo início, uma nova tentativa de percorrer o mesmo caminho (agora sem a rusga que o tornava impróprio).

Não entendo de ideogramas, também não entendo muito alguns dos gestos das pessoas ou meus, mas eu sei que eles estão imbuídos de grandes significados e carregam em si esperanças e desejos.

Busco então desembaraçar os fios, me permito a delicadeza de cada gesto para não estragar ou arrebentar a linha: tentar desembolar sem partir e sem emendar.

Convivência deveria ter esse sentido, também. Deixar de seguir adiante, se é preciso retornar e corrigir. Não por sentido de culpa, mas por ser a chance de construir algo mais forte, por proporcionar paz aos encontros posteriores. Por realizar uma potência que cada encontro permite de ser uma bela obra de arte — que, mesmo demorando para ser construída, representa o ideal de um relacionamento pleno e feliz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 07 de julho de 2014.

* O link abaixo, de acordo com informações que recebi, são anotações simplificadas, mas facilitam bastante o entendimento desta prática tão antiga e distante da ocidental.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bushido

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