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7 de jun. de 2014

As lentes e a visao

Lentes, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 07-06-2014
Lentes, criado em 07-06-2014.

E chegou a Betsaida; e trouxeram-lhe um cego, e rogaram-lhe que o tocasse.
E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia;
e, cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa.
E, levantando ele os olhos, disse: Vejo os homens; pois os vejo como árvores que andam.
Depois disto, tornou a pôr-lhe as mãos sobre os olhos, e o fez olhar para cima:
e ele ficou restaurado, e viu a todos claramente.

(Bíblia — Marcos 8:22-25)


Veja bem: os olhos enxergam de acordo com o conjunto de lentes de que ele dispõe. Concordam com a afirmação 100% dos usuários de óculos ou lentes de contato e daqueles que trabalham com microscópios ou telescópios. Mas introduzirei uma outra categoria, a de quem exercita o pensamento crítico.

Diariamente somos expostos a um conjunto imenso de imagens. Imagens brutas ou inocentes, até que passam pelo filtro das edições — e são várias. Me guiarei na lógica por um princípio antigo e um texto atribuído a Jesus, que absorvi: há os quem tem olhos e veem — fica subtendido que há os que não conseguem ver bem mesmo tendo olhos.

Aprimorar o mecanismo que nos permite perceber mais do que o sensível — aquilo que parece ser evidente — é percebermos o fundo do palco, o tipo de iluminação, as cores escolhidas, a trilha sonora, e tudo o mais que produz a transformação de seu sentimento: a manipulação do dado para criar um determinado tipo de informação, um determinado modo de reagir — o que chamamos de aceitação.

Todo mundo sente, mas nem sempre percebe, que é o efeito da sonorização do filme de terror que faz a cena tão impactante; idem para o beijo no final do filme romântico. Talvez nem perceba que o mesmo acontece nos jornais televisivos: a cena original foi cortada, editada, destacada nos trechos que interessam aos seus editores — acredite!, eles também tem preferências políticas e acordos comerciais.

Não são apenas os vilões que se utilizam do recurso: você se veste, se perfuma, usa uma determinada combinação de roupas e acessórios quando pretende encontrar com alguém ou mesmo influenciar pessoas (profissionalmente ou não).

Somente com o uso da crítica — há sempre o positivo e o negativo em cada proposição — que suas opiniões poderão ultrapassar a repetição dos argumentos preparados e emitidos pelos âncoras ou formadores de opinião. Fique muito atento, também, às peças de divulgação produzidas pelos marqueteiros escolhidos por cada partido ou alianças locais. Todos se utilizam dos mesmos recursos, todos querem o mesmo: cativar você.

Você sabe o que significa estar cativo? É estar seduzido, aprisionado, escravizado. É perder a liberdade. É sujeitar-se.
Me permita uma pequena pausa no fluxo do texto para dizer: É por isso a raiva que sinto de que esta tenha sido a palavra escolhida na tradução do Pequeno Príncipe, num dos textos mais famosos do mundo, inclusive a ação proposta a seguir, a de enlaçar (ser preso ou capturado por laços). A expressão não deixou de ser verdadeira: você escravizou, agora se responsabilize! [Isso vai dar panos para mangas… certamente!]. Estabelecer conexões e ser cuidadoso nas relações é bem diferente do que a tradução-traição do original sugeriu.
Agora o outro lado: é preciso descontar muito ao avaliar o contexto e o período em que foi escrito. Eram outras épocas, outros modos de entender relacionamentos como amizade, namoro ou casamento. Viu? Até aqui, utilizar-se de crítica ajuda a entender as lógicas subjacentes ao que se vê.

A proposta que percorre esse texto é simples: há muitos e diferentes tipos de interesses ao seu redor — a seu critério, bons ou ruins — e você precisa estar atento para não se deixar levar inocentemente. Astúcia e prudência são o remédio para a questão (retornei ao meu aprendizado original). Citarei uma narrativa onde tentaram encurralar Jesus*: os impostos. Atento, percebeu a armadilha que haviam preparado, respondeu a questão separando-a em suas partes constituintes: distingua o que é de fé e o que é mundano ou secular (A Deus o que é de Deus e a César o que é de César!).

Muitas das consequências do fundamentalismo vem exatamente por não ser capaz de distinguir essa questão. Optaram pela letra morta e não o seu sentido. Decidiram ignorar todo o contexto que envolvia o momento da narrativa.

Ou receberam lentes ruins ou as utilizam para enganar. Fariseus dos tempos modernos?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 07 de junho de 2014.

* Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma palavra;
E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo:
Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade,
e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens.
Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não?
Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas?
Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro.
E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição?
Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram.

(Bíblia — Mateus 22:15-22)

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