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17 de jun. de 2014

Indizíveis necessários

Indizíveis necessários, criado por Wellington de Oliveira Teixeira entre 16 e 17-06-2014.
Indizíveis necessários, criado entre 16 e 17-06-2014.

O que os outros recebem de mim reflete-se então de volta para mim,
e forma a atmosfera do que se chama: eu.
A outra — a incógnita e anônima — essa outra minha existência que era apenas profunda,
era o que provavelmente me dava a segurança de quem tem sempre na cozinha uma chaleira em fogo baixo:
para o que desse e viesse, eu teria qualquer momento água fervendo.

(Clarice Lispector — A paixão segundo G.H., p.27)


Dizem que não se deve expressar sentimentos ou promover raciocínios ou debates quando se está em uma situação difícil, quando vivências ou acontecimentos ao seu redor são desestruturantes. Vou aceitar como verdadeiro, mas vou me dar a chance de apenas divagar sobre questões que pertencem à ordem da vida como as preferências por determinadas coisas que fazemos.

Gosto muito de me permitir elaborar novos sabores para os pratos mais tradicionais, ler algo bem fora de minha área de atuação, encarar o aprendizado de algo novo. É verdade que são atividades nem sempre voltadas para mim. Talvez porque quase sempre preciso agir e pensar em função do coletivo.

Mas me permito uma boa companhia, compartilhar o pensamento e ousadias metafísicas, promover avaliações que possibilitem raciocínios ou ações mais conscientes. Esse, sim, um lado mais egocêntrico meu.

Ver possibilidades onde muitos optam por adotar bandeiras de verdades ou mentiras foi a minha iniciação ou primeiro passo para situar realidade e ilusão como almas gêmeas da percepção — poderosas geradoras do mundo interior de cada um de nós.

O segundo, para esse conjunto de pensamentos, foi o desconstruir os rótulos — aquelas etiquetas coladas nas testas de [e por] tantos conhecidos — do tipo fulano é isso, sicrano é aquilo; esse é assim e o outro é assado. Fiz opção por não reafirmá-los em prol de colaborar especialmente no sentido de desterritorializar as pessoas, de desconstruir movimentos repetitivos e incapacitantes de transformação, típicos da sua aceitação ou reprodução.

O terceiro, construir elementos que me encorajassem a expressar o que tenho de essencialmente válido em cada momento de minha vida. Um conceito que já absorvi é o de que meus encontros me transformam, trazem desejos diversos, provocam reações inexplicáveis pela sua unicidade — entenda, é por isso que não posso ser o mesmo para todos sem me falsificar.

As verdades que digo são forjadas nessa estruturação e eu sei que mesmo aqueles conceitos que não desejo abrir mão carregam um quê de pura interpretação — a exclusivamente minha. É como se eu parasse a vida num instante e me permitisse perceber alguns detalhes que só eu vejo e aparecem como um brilho fugaz numa superfície qualquer. Se poetizo um pouco esse entendimento, diria ser aquele reflexo da lua no alto da onda que se forma no mar e que consegue nos cegar por um brevíssimo momento.

Talvez, e realmente talvez, aquela pontada que tira a respiração e nos faz dobrar, não importa aonde estejamos, seja uma das únicas metáforas que consigo admitir para não deixar de tentar citar aquela dor, aquele vago momento onde se perde o próprio pensamento e se deseja o impróprio e o indizível.

Ainda muito imprecisa essa ideia, mas eu acredito que aquilo que impede a passagem, a ida que é sem retorno é apenas uma blindagem transparente que construímos para que um fluxo de loucura não penetre a nossa alma.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de junho de 2014.

* Conceitos como os de desterritorialização estão presentes nas obras de Giles Deleuze e Felix Guattari. Cito alguns trechos para incentivar a pesquisa:

Um regime alimentar, um regime sexual regulam, antes de tudo, misturas de corpos obrigatórias, necessárias ou permitidas. Até mesmo a tecnologia erra ao considerar as ferramentas nelas mesmas: estas só existem em relação às misturas que tornam possíveis ou que as tornam possíveis.
(Deleuze e Guattari — Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. vol. 2, p.31)

Os seres existentes se organizam segundo territórios que os delimitam e os articulam aos outros existentes e aos fluxos cósmicos. O território pode ser relativo tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio do qual um sujeito se sente 'em casa'.
O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada sobre si mesma. Ele é o conjunto de projetos e representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos.

(Guattari e Rolnik — Micropolítica: cartografias do desejo, p.323)

2 comentários:

Anônimo disse...

"Rir muito e com freqüência; ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; merecer a consideração de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma saudável criança, um canteiro de jardim ou uma redimida condição social; saber que ao menos uma vida respirou mais fácil porque você viveu. Isso é ter tido sucesso." Emerson.

Amigo, você vai no bom caminho.

Wellington O Teixeira disse...

Fico muito feliz em receber seu comentário. Espero conseguir alcançar um pouco desses altos ideais.