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8 de jul. de 2013

Por um acaso

Acaso, criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 08/07/2013
Acaso**, criado em 08/07/2013.

Eu
quando olhos nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro do meu centro
este poema me olha
Paulo Leminski (1944 – 1989)


Me permitam apresentar uma questão que me incomodava há muito anos: o chamado acaso e sua relação com Deus.

Negado ou afirmado, sempre com grande ênfase, evitado ou escamoteado com o uso de outras palavras, o acaso me parece tão importante quanto o conceito de necessidade - já que ambos permitem o conceito de evolução.

O acaso é aquele elemento de aleatoriedade infinita - em escala humana - que permite um viés mais simples para equacionar livre arbítrio e vontade divina.

Pois bem, esse modo de encarar o acaso permite sugerir que havendo uma voluntariedade ou desejo produz-se uma atração no campo das possibilidades propiciando encontros que permitem a assimilação de novos elementos.

Assim, para mim, o acaso é um dos maiores presentes de Deus para a humanidade, pois permite que as transformações e aperfeiçoamentos ocorram sem nenhum predeterminismo.

Se nossos encontros acontecem numa intervenção deste acaso, nossos relacionamentos também estão marcados por sua ação, mas sempre a partir de nossa vontade. Ao se entrar em um relacionamento afetivo que ganha prioridade emocional, como na amizade e no amor, as interações tornam-se muito mais poderosas produzindo, a partir das micro transformações no contato, mudanças no indivíduo como um ser. Essas relações são mais prazeirosas e marcantes e, portanto, as mais buscadas.

Essas relações profícuas, as infinitas pequenas assimilações e variações que permitem, os milhões de pequenos aperfeiçoamentos no indivíduo que vão transformando-o (não se esqueçam que tudo iniciou a partir da expressão de sua vontade) produzem o que aprendi a denominar de plenitude como ser - um estado de realização físico-psíquico-espiritual.

Meu entendimento - com base em conceitos filosóficos-cristãos - é de que a vontade de Deus para a humanidade se constituiu, de forma clara, com a identificação dela com Ele na manifestação do amor. Penso isso porque é no amor que, ao objetivar a felicidade de outrem, cedemos parte de nós mesmos. E, um paradoxo humano, esse me parece ser o único caso que ao se dar não se perde nada, ao contrário, a felicidade e a realização torna-se plena: portanto, agindo assim, o ser humano se torna mais identificado com Deus. "E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele" (1 João 4:16-17).

Penso - a partir dos pressupostos de minha fé - que podemos alcançar a vontade de Deus sem nenhuma imposição, por meio desse instrumento maravilhoso que é o acaso. Com ele, é possível crer que, ao manifestar o seu amor a partir da nossa origem, por meio do acaso ele nos dotou dos elementos de aglutinação que permitem refletirmos em nossa existência a sua própria essência: a procura do amor, a incorporação do amor, a manifestação do amor e a transmissão do amor. Quem sabe?, talvez o mais importante ciclo reprodutivo que a humanidade já percebeu ser capaz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 08 de julho de 2013.

* Era para ser apenas uma anotação no facebook, mas tomou vida própria.

** Acaso (do latim a casu, sem causa) é algo sem motivo ou explicação aparente. Há, pelo menos, três sentidos diferentes, dependendo do sentido dado à palavra causa:
Algo que acontece sem finalidade ou sem objetivo, isto é, algo sem causa final. Oposto, filosoficamente, à teleologia.
Algo que ocorre independente de um determinado precedente, um efeito não predisposto. Oposto, filosoficamente, ao pré-determinismo.
Algo não-explicável por suas (cor)relações (simultânea ou precedente), portanto sem qualquer determinação. Oposto, filosoficamente, ao determinismo.
Definições feitas com base na wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Acaso

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