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30 de set. de 2017

Iconoclastia para reapropriar-se

Iconoclastia criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 29-09-2017.
Iconoclastia , criado em 29-09-2017.

E o que significa quando, na versão de outra pessoa, eu sou o vilão? Conheço até bem demais as histórias ruins — mal imaginadas ou mal contadas — porque as escuto muitas vezes dos pacientes. Conheço as manobras dos que põem a culpa nos outros, dos que não conseguem enxergar que eles mesmo, e não os outros, constituem o ponto comum em todos os seus relacionamentos ruins. Existem tiques característicos que revelam a falsidade essencial de tais narrativas.
(Teju Cole — Cidade aberta)

O novo iconoclasta deve ser aquele que se utiliza de rigor de crítica para contrapor crenças estabelecidas ou qualquer tradição que seja invocada por si mesma, apenas. Ele denuncia a hipocrisia social e a aceitação passiva que compactuam com a degradação alheia *. Sabe, com absoluta certeza, que isso vai lhe produzir isolamentos. E quando ocorre, recorre ao entendimento de que é só, em si mesmo, mas que tem a potência de estabelecer conexões e composições com forças de mesma direção e, com isso, estar acompanhado em seus projetos.

Iconoclastia é o processo de desconstrução de ícones, mitos, [in]verdades, subjugo cultural. Mas prefiro adotar a ideia de que também é intentar para refazer a própria imagem no espelho em acordo com o que se é. Narrar a sua história e torná-la própria. Reinventar-se.

A antiga associação com a destruição física não é mais necessária. Ela se efetua com a mudança da mentalidade, do entendimento, com a criação de uma nova percepção não atrelada aos preceitos e preconceitos estabelecidos e entronizados no altar do dito cidadão de bem e guardião da moral e dos bons costumes.

A estratégia para encontrar-se consigo mesmo é encarar suas mazelas pessoais, seus ridículos, suas inconstâncias e incoerências, sem medo: elas existem. Mesmo vencendo estas, outras existirão. Evite retornar às mesmas. Descubra seu modo de desestruturar as forças de dominação que apodrecem a veracidade da sua alma. Conforme for conseguindo, mesmo que parcialmente, busque cuidadosamente identificar e retirar, do que sobra, as capacidades e forças que foram destituídas de suas potências iniciais. Faça um resgate delas.

Entenda isso como abandonar o papel de coadjuvante na vida. O conceito é tão antigo quanto não aplicado, não exercido, ou mesmo ignorado: na linha de produção de verdades intocáveis ocorre o massacre de qualquer semente de renovação. Trazemos histórias, toda a história do universo está dentro de nós, mas nenhuma é única até que alguém abra a sua própria trilha, siga seu caminho e constitua a sua jornada: ouse se reapropriar de si mesmo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 29 de setembro.

Queria muito que você estivesse aqui

Você se crê capaz de distinguir o paraíso do inferno, céus azuis da dor; distinguir um campo esverdeado de um trilho de aço gelado, um sorriso de uma máscara. Acha mesmo que consegue distinguir?
Fizeram você trocar os seus heróis por fantasmas, as árvores por cinzas quentes, uma briza fresca por um ar quente, mudanças por um conforto indiferente? Você trocou um papel principal em uma cela por um de figurante na guerra?
Eu queria muito, queria muito você aqui. Somos apenas duas almas perdidas, nadando num aquário, ano após ano, correndo sobre o mesmo e velho solo. E o que encontramos? As mesmas e antigas inseguranças.
Queria muito que você estivesse aqui.
(Pink Floyd — Wish you were here, trad. livre)

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