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17 de set. de 2017

Furtivos escapes

Furtivos escapes, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 16-09-2017.
Furtivos escapes, criado em 16-09-2017.

Quero crer na proximidade de uma geração inventora, contra todas as previsões contrárias. Uma que acolha mais pensamentos criativos que uma razão estruturadora; cujos olhos não estão, por escolha própria, obstruídos, embotados, ou com antolhos; cujo falar, ouvir e expressar provoque questionamentos, [re]avaliações, refazimentos de práticas. […] vou me permitir vislumbrar um horizonte contrário ao que o pessimismo quer me incutir.

(Wellington de Oliveira Teixeira — Por uma geração inventora )


Há uma onda desgastando e absorvendo consciências, almas e corpos, na atual configuração do país. Seu efeito aprisionante se manifesta, mais que em outros, em todos que não detém sua atenção para os fatos e suas consequências.

Mesmo compreendendo que é preciso agir para encará-la, há momentos em que o esforço não é suficiente para destrinchá-la e identificar seu sustentáculo e, com isso, construir o estímulo que permite o ir à luta para desfazê-la.

O melhor é continuar mexendo e remexendo até encontrar a brecha e escapulir ao aprisionamento. As últimas postagens carregaram essa quase agonia de querer projetar uma onda capaz de ser sintonizada por aqueles que se identificam nessa situação.

A construção de imagens e textos está conectada ao que me mobiliza para dar conta, vazão, expressão aos fluxos que atravessam meu instante. As interferências podem ser incompreensíveis e efetivamente frustrantes e paralisantes. Narrar essa trajetória é um modo de compartilhar essa angústia e dar oportunidade para intervenções e contribuições dos aliados e companheiros de jornada.

Fazer isso não é trair o processo de vida a que me propus*. Ver ou vivenciar o imobilismo é motivo maior de preocupação. Me afeta visualizar o futuro de muitos que gosto sendo desconstruído, mas cansa desenvolver sozinho diálogos educativos, pedagógicos, modos de desconstruir falsos raciocínios – não tenho pretensão de iluminar ninguém, não creio em salvadores da pátria.

Acredito, porém, que há sentido em aglutinar, em reunir colaborativamente outros para alterar a realidade de um modo ou de outro. Pode ser que, unidos, consigamos mobilizar pessoas via interseção de pensamentos críticos: produzir a chance de alguém encontrar um furtivo espaço-tempo para escapar dos aprisionamentos, forjar e estabelecer sua liberdade de ser e estar.

Meu método é investir na ampliação do acesso a instrumentos de avaliação, sinalizando os nós que encontro, apontando interesses subvertedores dos direitos individuais. Quando não funciona, fica um pouco dessa sensação de derrota, apesar do esforço despendido. O resto, não tenho como definir. Continuo persistentemente descobrindo e seguindo adiante.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 16 de setembro de 2017.

* Minha aposta de vida, o mundo que acesso é uma ilusão que meu cérebro determina por sua momentânea incapacidade de expandir a percepção. No entanto, e exatamente por isso, aposto nas interferências, naquilo capaz de me sensibilizar. Se aceito a afetação é porque necessito. E segundo as únicas regras que estabeleci para meu mundo, é em função do prazer ou do aprendizado – entendi que tudo na vida se encaixa aqui.

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