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9 de set. de 2017

Artificialização e extinção?

Artificialização, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 09-09-2017.
Artificialização *, criado em 09-09-2017.

Podemos mapear todos os milhões de espécies de seres vivos que existem na Terra, mas nunca saberemos literalmente tudo o que há para saber a respeito de uma única espécie de bactéria que seja – até porque, graças às mutações no DNA e a seleção natural, esse sempre será um alvo em movimento. A vida e os cosmos continuarão a produzir novidades, que precisarão ser escarafunchadas com paixão e precisão. Você pode ou não acreditar em um mundo sobrenatural, mas o mundo natural já contém em si a semente do inesgotável.
(Reinaldo José Lopes — Qual o sentido da vida em os 11 maiores mistérios do universo)


A natureza tende a produzir encaixes em novas configurações da realidade: a tal da adaptabilidade. Assim também os humanos com seu jogo ou guerra de gerações. O diferencial está em que a humanidade tem uma tendência a impor um padrão, mesmo se o objetivo anterior era o de quebrá-lo. Somos contraditórios.

Por exemplo, a pasteurização é um processo que tenta controlar a qualidade de um produto, que busca retirar qualquer traço de impureza nele e, na contramão do que se busca, simultaneamente destrói os elementos que, em doses inócuas, promovem o estímulo às defesas orgânicas, a saúde como um todo.

A pasteurização social se visibiliza pela repetição previsível dos comportamentos, manipulações das práticas de modo a gerar uma hegemonia e sua reprodução indefinida. No que torna seres humanos previsíveis, controláveis, manipuláveis, presas fáceis, tem produzido extinções como as da criatividade e da produção do 'si próprio', perdido em um 'si genérico'. Esse tipo de humanização pode estar gerando efeitos nefastos na natureza.

Prefiro escapar, por enquanto, da desqualificação ou da moralização deste processo. Vou tentar capturar as minúcias, as pistas (pense nisso: as práticas sempre mudam em função de seu ambiente) para constituir um cenário possível das consequências imediatas da nossa inserção na artificialização da vida.

Algo que vai na contramão do que os aferrados à modelação dos comportamentos (fundamentalistas, dentre outros) tentam obliterar e insistem em ignorar: só na diversificação há permanência. Há em todas as épocas um determinado tipo de evento (como uma peste) que dizima parcialmente a humanidade e a extinção só não ocorre por conta da diferenciação que gradualmente ocorre no processo de evolução natural e das práticas diferenciadas.

Sob esse ponto de vista, as mutações, as fugas do padrão ou da normalidade são o que há de mais eficaz na preservação das espécies. Um paradoxo, é verdade — mas quem disse que a Ordem usa o mesmo raciocínio que essa espécie que se considera sapiens ou sábia?

Sempre ocorreram, é verdade, mas o atual ritmo não deve ser ignorado: as transformações nas funções cerebrais e no corpo humano estão se radicalizando e começamos a detectar seus efeitos nos comportamentos. A virtualização está remodelando os órgãos sensoriais e a estrutura de sustentação corporal. Fato preocupante, porque acelerados artificialmente. Ultrapassamos as fronteiras dos escrúpulos, em nome das ganâncias, em especial as dos conglomerados empresariais farmacêuticos e de agrotóxicos globalizados.

Só que, quando as vias comuns não são efetivas, a natureza promove rupturas marcantes, especialmente se a devastação ultrapassar o contexto de espécie, aproximando-se de sua própria extinção. Mudanças genéticas vêm ocorrendo em todas as espécies em um ritmo incomum. É possível supor que para enfrentar essa tentativa de apropriação da cadeia natural e os desastres resultantes das intervenções da humanidade.

Ainda que escalas evolucionárias exijam milhares de anos para efetivar qualquer diferenciação completa e autônoma, o interstício, o período intermediário e de transição é composto por um convívio – geralmente não pacífico – entre os que estão dentro dos conformes anteriores, observando sem entender ou explicar o surgimento e proliferação da mutação. A a tentativa de erradicação do diferente tem sido a prática predominante. Mas, e se o minoritário, de repente, tornar-se um salto evolutivo, e modificar o jogo da preponderância e do predomínio, estaríamos encarando nossa próxima evolução?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de setembro de 2017.

* E daí que as opiniões divirjam? Que o campo das ideias seja sempre de batalhas? Não é disso que a proposição acima trata. Ser é a única questão que cada corpo-alma-espírito carrega como próprio. Somos um amontoado de partículas e particularidades assimiladas num percurso. Certo. Mas as formas de constituição diferem. E muito.
Algo recentemente tem me causado um grande incômodo: a verdade não importa, somente sua aparência, aquilo que pode substituí-la porque opera em nome da resolução de algum medo da expressão de si mesmo.
Todo incômodo tem seu lado provocador, instigador que, se bem utilizado, promove transformação. Minha questão relaciona-se a identificação de uma prática retomada atualmente de se escudar em algo ou alguém para expressar ódios, rancores, insatisfações e irritação com diversas situações — perpetuando práticas de fundamentalismos que eu pensava estar ultrapassados. Nessa cadeia de atitudes e práticas, a identidade pessoal é sobreposta.
A negação e a projeção, mecanismos de proteção pessoal, extrapolam para o apagamento da personalidade. Lidamos com a adoção de avatares que possuem corpos. A virtualização desconstruindo as vivências. A imitação e o mimetismo produzindo artificialidades e estas, possivelmente, à extinção do sujeito humano, realizando a especialização do assujeitado como padrão.

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