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10 de set. de 2017

Receptáculos

Receptáculos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-09-2017.
Receptáculos *, criado em 10-09-2017.

A estrada é longa, com muitas curvas sinuosas que nos guiam quem sabe para aonde.
Mas eu sou forte, forte o suficiente para carregá-lo: ele não é um peso, ele é meu irmão.
Assim prosseguimos: seu bem-estar é de meu interesse. Não é nenhum fardo a suportar
Chegaremos lá! Ele não me atrapalha, ele não é um peso; ele é meu irmão.
Fico sobrecarregado de tristeza porque nem todos os corações
estão repletos da alegria, do amor de um para com o outro.
A estrada é longa e não possui retorno. Durante o percurso, por que não compartilhá-la?
Assim, a carga não vai absolutamente me pesar: "Ele não pesa, ele é meu irmão!"

(Bobby Scott e Bob Russell — He ain't heavy, he's my brother, trad. livre)


Há pesos que carregamos e nos oprimem por impedir a manifestação de um ser completo e pleno. Certas obrigações que não se relacionam com um processo de busca e compreensão do necessário, do essencial ou mesmo daquilo não nos oferece um prisma, por pequeno que seja, de um vir a ser mais evoluído. Os outros, esses são dons de vida, desafios fundamentais para encontrarmos e manifestarmos as capacidades e potencialidades, inclusive aquelas de inclusão, colaboração e participação: o todo só existe com a integração de suas partes e quando cada uma é plena em si mesma.

Essa visão de mundo, carregada de um certo otimismo – acredito eu que sóbrio e equilibrado – com relação aos acontecimentos, dificuldades ou relaxamentos, singularmente vividos e, de vez em quando, absorvidos na composição de um si mesmo legítimo. Certamente alguns dos passos durante, trechos e recortes de um dia ou de um período de vida, são árduos, exigem uma vontade férrea de ir adiante, propõem valores que ultrapassam o olhar apenas sobre si mesmo. São estes que sinalizam: podemos e devemos ser companheiros de vida, parceiros de jornadas, cooperadores uns com os outros.

Claro, isto exigirá abdicar do passo mais rápido, em alguns momentos, em prol de tornar-se o apoio ou sustentáculo para não permitir que uma construção desabe sobre si com as intempéries da vida. Mas eu garanto: empatias e solidariedades retornam em produção de devires mais conectados com o que está por aí, com os elementos que precisamos aglutinar para compor nossas potências pessoais. Nem sempre o que temos a doar é o necessário para alguém, e isso não nos torna desqualificados; os encontros são seletivos e os fluxos só deveriam se reunir quando há compatibilidades a serem compartilhadas.

Essa dose de egoísmo é ímpar, ela nos ensina que um mundo melhor para se viver depende do ambiente e das companhias que tenho ao redor. Somos seres únicos, nascemos e morreremos sozinhos; no ínterim, constituímos as possíveis narrativas dessa caminhada ao optar por composições com aquilo que exprime potência por si e, ainda assim, não se nega a estabelecer novas formações.

Um olhar acurado não é aquele que determina o outro, mas o que permite refletir-se no outro e nesse processo obter a compreensão, o entendimento e a sabedoria. Alguns estão rastejando, outros engatinhando, muitos mais dando os primeiros passos e subindo os degraus. Todos nós, por uma fração de segundo que seja, podemos nos inserir na Ordem e Nela constituir as ousadias, as coragens, as determinações e vontades que nos impulsionam para o adiante.

Gosto de uma alusão que propõe que as percepções variam entre o que está estabelecido e o que é desejável. Em algum momento, quem sabe, a chama acende, a taça se preenche e o todo se manifesta num adeus à forma para ir ao encontro do desconhecido. O incognoscível só o é enquanto não estamos aptos a apreendê-lo e assimilá-lo com a forma ou conteúdo que alcançamos atualmente com nossa percepção e práticas de vida.

Reafirmo, o processo de vida é único e intransferível, mas admite prazerosamente as interações, que não outras, as do aprendizado com os processos estabelecidos por outros: alteridade é fundamental na construção da individualidade.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 10 de setembro de 2017.

* Indico porque gostei muito de assistir ao vídeo: The Justice Collective. Meus sinceros agradecimentos a Genésia Santana de Araújo (uma mãe pra mim!) pelo envio, nesta manhã, que me inspirou esse artigo.

Reconheça os cantores que participaram deste projeto de arrecadação de fundos:
Andy Brown (Lawson),
Gerry Marsden (Gerry and the Pacemakers),
Paul Heaton (The Beautiful South),
Glenn Tilbrook (Squeeze),
John Power (Cast and The La's),
Robbie Williams (Take That),
Melanie C (Spice Girls),
Rebecca Ferguson,
Holly Johnson (Frankie Goes to Hollywood),
Paloma Faith,
Beverley Knight,
Eliza Doolittle,
Dave McCabe (The Zutons),
Peter Hooton (The Farm),
Ren Harvieu,
Jon McClure (Reverend and The Makers),
Paul McCartney (The Beatles),
Shane MacGowan (The Pogues),
Bobby Elliott e Tony Hicks (The Hollies),
Hollie Cook (The Slits),
Coral Gospel LIPA,
Clay Crosse,
Alan Hansen,
Peter Reid,
John Bishop (comediante),
Neil Fitzmaurice (escritor),
Kenny Dalglish (jogador de futebol).

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