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7 de out. de 2017

Estados e estágios

Estados e Estágios, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05-10-2017.
Estados e Estágios*, criado em 05-10-2017.

Vento no Litoral

De tarde, quero descansar, chegar até a praia, e ver se o vento ainda está forte.
E vai ser bom subir nas pedras.
Sei que faço isso pra esquecer: eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora.
Agora está tão longe! Ver a linha do horizonte me distrai.
Dos nossos planos é que tenho mais saudade: quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você, agora, além de aqui dentro de mim?
Agimos certo. Sem querer, foi só o tempo que errou.
Vai ser difícil sem você porque você está comigo o tempo todo.
E, quando vejo o mar, existe algo que diz que 'a vida continua e se entregar é uma bobagem'.
Já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim: quero ser feliz, ao menos.
Lembra que o plano era ficarmos bem?
— Ei, olha só o que eu achei: cavalos-marinhos!
(Legião Urbana)
Vivência é a reunião em um estágio da vida de diversos acontecimentos fortuitos que se conectaram, ao longo do tempo, para promover um determinado estado de percepção da realidade: compreensão e motivação tornando-se a propulsão para cada próxima ação, a cada circunstância.

Há muita incompreensão acerca dos episódios colecionados como etapas de vida – não conseguimos identificar plenamente o que permitiu um acontecimento. Mas eles sinalizam sua passagem com uma marca impressa na superfície da alma. Algo semelhante às estacas com placas indicando o percurso em uma estrada.

Geralmente, só quando a poeira baixa obtemos uma visualização razoável para iniciar uma avaliação sobre seus efeitos. E só após um longo aprendizado entendemos que é possível resgatar tais sinais para uso em novas situações. Não é recordar-se, apenas, é revivenciar a força do momento em que ocorreram.

Essa capacidade humana de observar-se como trajeto ou percurso abre uma possibilidade que é impressionante: a de evitar situações assemelhadas ou de aplicá-las às contextualmente próximas. Há no reino animal habilidades semelhantes, mas o pensamento maximiza essas inferências ou sensibilidades.

O uso fortuito dessa habilidade pode provocar um estado de contemplação intenso, uma rememoração que afeta os sentidos atuais: alegria e paz de espírito ou uma nostalgia (o passado tem seu poder atrativo baseado na ilusão de familiaridade). Dependendo da força disponível no instante, vira fixação, a pura repetição do já vivido que aprisiona.

Não resta dúvidas de que é um aliado, em potencial, para todos que desejam mais liberdade de vida e que desejam se permitir experimentações. Quando uma criança tenta subir na árvore e cai, poderia usar a vivência para paralisá-la, gerar desistência; mas, se ao contrário, avaliar o percurso feito e definir um novo, evitando os percalços, poderá conquistar o desafio. O novo estado de mente foi possibilitado pelo uso consciente dos estágios anteriores, das marcas que deixaram. Talvez sabedoria seja apenas isso: exaustivamente, regatar das vivências seu potencial esclarecedor em novos contextos.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 07 de outubro de 2017.

* A imersão em estados destoantes, aqueles em que seus referenciais diários não atuam, é um poderoso fator de expansão ou retração da potência de vida. Estratégia ou Melancolia podem derivar de mesmas fontes, a depender do modo como são acessadas. O fator que determinará é se a intenção de quem acessa é de avanço ou de retorno.
Com esse entendimento, descrever o atual estado em que você se encontra, pode tornar-se algo terapêutico, pois, no instante em se expõe as questões, um outro entendimento pode emergir. Talvez, até mesmo a empatia e colaboração de quem tem em seu próprio histórico um estágio semelhante.

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