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19 de jul. de 2009

A mágoa e a Raiva

Mágoa e Raiva, criada por Wellington de Oliveira Teixeira em 18 de julho de 2009
Mágoa e Raiva, criado em 18 de julho de 2009

Toda vez que sentir, como sente sempre, que está tudo errado e você está prestes a ser aniquilado, vire-se para sua morte e pergunte se é verdade. Ela lhe dirá que você está errado; que nada importa realmente, além do toque dela. Sua morte lhe dirá: 'Ainda não o toquei.'
(Carlos Castaneda - Viagem a Ixtlan)

A mágoa e a raiva nem sempre caminham juntas. Creio que é possível ter raiva sem estar magoado e estar magoado sem ter raiva.

Normalmente eu me enraiveço com atos que considero ignóbeis que me são dirigidos por desconhecidos e me magôo com atos dos que conheço bem.

Tem uma questão, aí, que tem haver com sentimentos e com atos. Os atos dos desconhecidos parecem, a mim, serem frutos de uma atitude pessoal de cada pessoa. E, quando dirigidos a alguém, carregam uma certa vontade pois, do contrário, não fariam o efeito que produzem.

Já com relação às pessoas de quem se gosta, isso não é tão cem por centro. Vários atos de alguém por quem temos sentimentos valiosos, como amizade e amor, nos ferem sem nunca terem sido dirigidos a nós. Eram uma pura expressão pessoal de quem os praticou e nós não éramos o alvo. Então, luto dentro de mim para que as coisas não se misturem.

Avalio que as ações de quem eu gosto têm o poder de me ferir por eu me manter aberto a essas pessoas, por estar sempre sintonizado com elas e quase sempre à sua disposição.

Gostar é um terreno perigoso e é, também, um poderoso meio de intercomunicação: a acessibilidade proporciona uma mensagem muito direta, com a possibilidade de uma resposta quase que instantânea.

Há um porém que precisa ser avaliado: a potência das ações é realçada em ordem exponencial - um pequeno gesto ganha proporções grandiosas; Uma simples lembrança, um telefonema, um piscar de olhos, um sorriso compartilhado são capazes de provocar mudanças internas e externas incompatíveis com o poder original da ação.

Sendo assim, é praticamente impossível não ser atingido pelas ações de quem se gosta ao mesmo tempo em que é possível simplesmente ignorar as ações dos desconhecidos.

Talvez por isso, quando um ato de um estranho qualquer tem força para nos atingir, a reação é de raiva - você não se cuidou, se expôs e ficou vulnerável. E a raiva tem mão dupla: é dirigida ao estranho e a si mesmo. Quem sabe essa não é a razão de ser tão mais explosiva e destrutiva?

A mágoa, por outro lado, promove a dor, o ressentimento, a tristeza e a depressão. É como se a mágoa tivesse o poder de drenar a positividade da relação.

Há um caso especial, quando alguém que amamos age intencionalmente contra a gente. E, nesse caso, a probabilidade da interação dos sentimentos de mágoa e de raiva é imensa. E de, associados, produzirem duas reações simultâneas em nós: a explosão e a dor. Em primeiro momento não distinguimos o alvo, já que se assemelharam na intenção com os estranhos, e depois, quando identificamos vir de alguém a quem amamos, somos tomados por um tipo de tristeza que é capaz de doer, para além da alma, no corpo.

Creio que estou vivendo um momento conflitante: amo uma pessoa e odeio o modo como ela agiu. E, para o bem dos dois, preciso descobrir um meio de ultrapassar a raiva e a mágoa. Ambas refletem apenas a minha fraqueza e a minha incapacidade de avaliar as situações e as pessoas. Além disso, preciso me reensinar que não sou melhor que ninguém e o que pode fazer a diferença é o modo como lido com as situações da vida.

Há algum tempo atrás li algo que redirecionou minha vida: a morte está sempre ao nosso lado, logo não há tempo para mesquinharias e atitudes imbecis.

Penso comigo mesmo, pra que carregar um fardo que não se pode suportar? Melhor deixar de lado ou para trás e ir adiante.

É isso que estou fazendo: não mais me permitindo ser atingido por quem foi como um estranho pra mim; me afastando e evitando ao máximo os contatos; impedindo o acesso que era gratuito ao centro de mim mesmo e deixando claro que somente os sinceros merecem a minha sinceridade e meus gestos de ternura.

O amor? Esse nunca termina. É verdade! O perdão virá.

Mas a proximidade, infelizmente, essa ficou perdida quando eu me perdi entre a raiva e a mágoa.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de julho de 2009.

* Ao mesmo tempo em que escrevo isso, me recordo de ter ferido, não por desejar, uma família a quem sempre amei. Eles me ensinaram, na prática, que o amor perdôa. Sou extremamente grato por essa lição.

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