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27 de fev. de 2015

Extremidades

Extremidades, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 27-02-2015
Extremidades*, criado em 27-02-2015.

O livro Viagens de Gulliver (Jonathan Swift) narra uma guerra civil ocorrida em Lilliput
por conta de um conflito entre os que preferiam quebrar os ovos cozidos pelo lado maior (big-endians)
e os que preferiam pelo lado menor.
A paródia referencia as diferenças entre católicos e protestantes a respeito da interpretação da transubstanciação
na cerimônia da hóstia ou ceia, que gerou defesas radicais e fervorosas de cada posição,
em alguns casos, ações agressivas e extremistas.


Esquecemos muitas vezes as lições da estatística. É virtualmente impossível alcançar toda a faixa por uma amostra.

No convívio humano, há sempre os cinco porcento das extremidades que podem ser considerados refratários. Não importa os agentes que atuem sobre eles, seus posicionamentos permanecem inalterados. Eles às vezes nos assustam e, como para tudo que nos causa medo, criamos rótulos para eles: são os extremistas.

Sub classes estão no cotidiano de todos, conservadores x progressistas, homo x heteros, crentes x agnósticos, sensíveis x insensíveis, e por aí vai.

Mas o que realmente queremos dizer com isso? Qual a moral embutida nessas palavras? Que tipo de impotências damos voz ao pedirmos arrego na tentativa de alcançá-los e compreender suas posições?

A natureza gerou o espectro diferencial que alcançou todos os seus entes. Há elementos cuja resistência é tão grande que se torna praticamente impossível quebrá-los. Isso é ruim? Claro que não! Como tudo na vida, sempre há um necessário para cada coisa. Assim entendemos os conceitos de complementação, utilidade, pertencimento.

Talvez, o principal papel desses elementos seja nos fazer avaliar de forma referencial o posicionamento que ocupamos em determinado momento e aguçar nossa intenção de realizar deslocamentos mais conscientes.

Por conta, talvez, de uma visão limitada que eu possua, fico entristecido por eles: há um que de prisão em não conseguir deslizar pelo campo de possibilidades e descobrir outras realidades, formular outros pensamentos. Mas essa é apenas uma leitura de quem não ocupa aquela posição: necessidades pessoais são diferenciadas.

Nem por isso, deixo de incentivar o caminho do meio; o esforço de encontrar um ponto de equilíbrio que poderá ampliar nossa avaliação e nos permitirá viajar ultrapassando os pequenos limites que nos cercam para descobrir novas formas de ser e estar nesse mundo tão incrível.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 27 de fevereiro de 2015.

* Parte extrema de um objeto considerado em seu comprimento, suas pontas ou fim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Intelectualmente, compreendo a existência de extremistas. Isso, contudo, não implica que não me assombro em face de algumas manifestações de tal natureza. Nos últimos tempos, venho empenhado alguma energia para convidar pessoas ao uso da razão para interpretação de alguns fenômenos (principalmente utilizado o canal Facebook), em especial aqueles relacionados com a percepção do estado atual da política e das instituições brasileiras, governos e mídia, principalmente. Venho me deparando que manifestações que traduzem um assustador cenário de medo e de insegurança por parte dessas pessoas, que, ao meu ver, tem poucas fundamentações reais (salvo, talvez, as mudanças climáticas). Medo e insegurança, contudo, facilmente se transformam em raiva e, depois, em ódio, esse sempre impossível de ser controlado. As expressões desse ódio já são sentidas. Um ódio que não se dirige a nada concretamente específico, tendo como bodes expiatórios o PT, a Petrobras, a Dilma, “issotudoaíevocesabedoqueestoufalandonãosefinjadebobo”. Um ódio contra tudo que não venha de uma autoridade conhecida, de uma referência aceita. Uma demonização da alteridade, do outro. Trabalhador não pode alcançar poder político. Preto não pode ir pra faculdade (pública, nem pensar!). Pobre não pode escolher emprego. Presidiário não é gente (nem bicho, é algo menos que isso). Gênero, somente dois. Opção sexual, somente uma. Ao invés de fazer defesa de alguma opção política, ideológica, filosófica, de estilo de vida etc., as únicas vontades manifestas são as de tirar de quem conquistou o pouco conquistado. A centro-esquerda tem sofrido pesados ataques. Um paradoxo aparente acontece. Com as conquistas oriundas das reduções de desigualdades sociais alcançadas nos últimos anos, uma vez que agora há mais a perder, a sensação de insegurança aumentou em face da possibilidade de perdas. A direita (em especial a extrema) mostra a cara, apelando para tais temores. Por enquanto, o fenômeno é mais sentido na classe média. Afinal, ela é mais rica agora do que antes e, portando, tem mais a perder. Além disso, entende que toda vez que um pobre ganha ela perde. Caso a percepção da situação econômico-social dos mais pobres passe a ser percebida por eles como piorando (independentemente de piorar de fato), vejo possibilidade de retrocesso para a social-democracia brasileira, com a retomada por forças conservadoras de postos-chave da república. A espreita, o fascismo. Isso me preocupa.