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9 de ago. de 2017

Novas efetivações

Efetivações, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 06-10-2017.
Efetivações *, criado em 06-10-2017.

Morcegos voam e localizam insetos no escuro por meio de um sistema de sonar, ou ecolocalização, emitindo em alta frequência gritos que refletem nos objetos à sua volta e retornam a eles em forma de eco.
Essa forma de percepção é completamente diferente de qualquer sentido que possuímos, portanto, é razoável supor que é subjetivamente diferente por completo de qualquer coisa que podemos experimentar. De fato, existem experiências que nós, como humanos, jamais poderemos experimentar, mesmo em princípio; existem fatos sobre experiências cuja natureza exata está além de nossa compreensão. A incompreensibilidade essencial desses fatos deve-se à sua natureza subjetiva – ao fato de que incorporam essencialmente um ponto de vista particular.

(Ben Dupré — Como é ser um morcego?, em A mente importa, p.36-37)


São incríveis, incontáveis e instantâneas, as formas de um indivíduo se apropriar de qualquer percepção e, inconscientemente, fundamentar o seu modo de ser, manifestando uma subjetividade: o que vê, o que sente, o que processa é a resultante de um processo de interposição ou sobreposição de fluxos de diversas fontes, com suas composições com absolutamente tudo (de escalas nano à cósmica) disponível a cada instante na Ordem.

Por falta de termo melhor, nomeamos essas apreensões de mundo como realidade. O mesmo ocorre com a palavra pessoa, essa ilusão de continuidade gerada por flashes sequenciais, similar a um filme, que é apenas uma sucessão de diferentes imagens fixas.

Não temos uma continuidade material, somos pura transformação. Gravitamos em torno de um determinado núcleo expressivo onde, a qualquer momento, pode ocorrer um rompimento nas composições de forças ou até mesmo novas áreas de atração alterarem o núcleo da gravitação. Percebemos cada nova estruturação como uma mudança no ser.

Assim, mudança exige a quebra das cadeias e amarras que mantinham a órbita e essa ruptura gera energia capaz de pressionar e impulsionar avanços ou retrocessos nas composições já constituídas. Estas variações são bem vindas, por permitirem as condições de refazimento do ser e a desconstrução de sua estruturação mais rígida, as máscaras.

Se a atualidade é a ressonância que ocorre entre as impossibilidades (já se efetivou) e os não constituídos ou prováveis; somos um puro presente, o resultado de uma reação entre passados e futuros. E nessa espécie de liquidez, de insustentável leveza do ser (ou outra formulação expressiva para nomeá-la) podemos efetuar uma superação do enrijecimento, via [des]agregações e superações, desse continuum e estabelecer uma espiral sobre o círculo.

Ao observar mudanças, entende-se que a riqueza da transcendência de um ser está em franca oposição aos fundamentalismos ou imobilismos: sem os giros ascendentes, sem novas composições de equilíbrios, somos um ciclo, monótono e repetitivo, destituídos da vida e de suas múltiplas capacidades.

Já que na Ordem nada é estático, qualquer imposição para produzir um acorde fixo ou a continuidade do imobilismo gera estagnações e desequilíbrios. Nos seres humanos, previsivelmente, isso só conduz ao tédio e ao sofrimento: o resultado de não conseguir constituir novas efetivações e apenas estabelecer motivos para criticar as dos outros. Não à toa, seres assujeitados encaram a decomposição de sua humanidade e acabam por se tornar indignos dela.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de agosto de 2017.

* Efetivar é fazer com que se torne efetivo (produzir efeito). Efetuar-se como ser exige um processo contínuo de efetivações. Ao gerar-se oposições ao processo ou mesmo empecilhos às efetivações de si mesmo ou de outrem, produz-se um aprisionamento a um determinado modo de ser. Pode parecer banal, mas é o mesmo que destituir alguém de seu mundo, de suas particularidades, sua subjetividade. E isso só gera infelicidade e uma sociedade doente.

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