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16 de ago. de 2017

Regenerando o tecido da realidade

tecido da realidade, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12-08-2017.
Tecido da realidade, criado em 12-08-2017.

Observando o mundo, verifica-se que todo pequeno progresso no sentimento humanitário, cada aperfeiçoamento das leis criminais, cada passo em direção à redução das guerras, ou em direção a um melhor tratamento para as raças de cor, ou abrandamento da escravidão, cada progresso moral que tenha ocorrido no mundo, sempre contaram com a oposição das igrejas mundialmente organizadas […]
Minha opinião pessoal sobre a religião é a mesma de Lucrécio. Considero-a uma enfermidade nascida do medo e fonte de indizível sofrimento para a raça humana. Não posso negar, contudo, que tenha feito alguma contribuição à civilização. Nos primeiros tempos, ajudou a fixar o calendário, fez com que os sacerdotes egípcios registrassem os eclipses com tanto cuidado que acabaram sendo capazes de prevê-los. Estou pronto a reconhecer esses dois serviços, mas não conheço outros quaisquer.

(Bertrand Russel — Por que não sou um cristão e outros ensaios sobre religião e assuntos conexos *)


Está comprovado que não há realidade, como um absoluto para todos. Vivemos mundos diferenciados em função da apreensão dos elementos por nossos sentidos (inclusive ao denominado espiritualidade), psiquê e razão. O tecido da realidade depende da perspectiva adotada para analisá-lo ou apreendê-lo.

É possível verificar diferentes cenários, antes de adotar uma perspectiva principal, para quem avalia criticamente as situações. O método é semelhante a adiantar ou retroceder uma das pernas para permitir uma mudança da perspectiva, sem efetivar o passo atrás ou à frente.

Melhores decisões, dentro de determinado campo de atuação, amplia a chance de conquistar os desafios e ser um vencedor. Jogos de estratégia promovem essa prática de construir os cenários adiante, sob diferentes pontos de vista, para cada situação. Como técnica, quando usada em negócios, política, propaganda e relacionamentos, a prospecção, mais do que conquistas, evita muita dor de cabeça, ou pior.

Por outro lado, o mau uso do método facilita a manipulação daqueles que se aferram a uma única perspectiva. Estes tendem a adotar padrões e predeterminações fundamentalistas porque não exige pensar e se posicionar a respeito do que embasa tais conceitos. Uma perspectiva possível torna-se a Verdade.

O estímulo à constituição de egocentrismos exacerbados tem promovido rupturas graves no tecido das relações: a humanidade do outro é descartada. O interesse nesse tipo de manipulação social é algo muito antigo. Foi feito, por exemplo, objetivando a escravização de indígenas e negros, quando negociantes, políticos e líderes religiosos afirmaram que eles não possuíam alma. Para os que tinham interesse em acreditar na ideia, foi o suficiente para se desculpar até mesmo para cometer atrocidades e ignorar genocídios.

É possível optar por uma via de construção pessoal desenvolvida com independência, mas fortalecendo a colaboração social e o sentido de inclusão. A interdependência, nesse caso, ultrapassa o aprisionamento, produz a cooperação e estabelece o mútuo e harmônico desenvolvimento para todos.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de agosto de 2017.

* A Citação, que está em Pela Bandeira do Paraíso, uma história de fé e violência - Jon Krakauer, me remete a muito do que se tem visto no acumpliciamento Política-Religião, em função do poder financeiro. O Golpe Legislativo-Judiciário contra a presidente Dilma Rousself que, mesmo sem qualquer crime, foi deposta teve toda a bancada evangélica votando a favor, à despeito de sua base exigir outro posicionamento. A formação de um bloco no Legislativo demonstra bem o seu caráter: uma bancada de ruralista, armamentista e religiosa (Boi, Bala e Bíblia).

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