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18 de ago. de 2017

Expectativas e expectorantes

Anacrônico criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-08-2017.
Anacrônico *, criado em 17-08-2017.

Anacronismo
Atitude ou fato que não está de acordo com sua época; assumir ou atribuir ideias e sentimentos cronologicamente impróprios, ou deslocar costumes e objetos da época a que pertencem.

Contextualizar
Dar um sentido e entendimento atual para práticas ou elementos antigos. Interpretar ou analisar, integrando a perspectiva de um determinado contexto: descrever as circunstâncias, explicando uma situação e sua conjuntura.

Tal pai tal filho. A expressão tão difundida, pretende-se algo admirável, até mesmo um elogio. No entanto, carrega uma opressão desmedida: tornar-se o próprio pai é abdicar de si mesmo.

É inegável que pais desejam para seus filhos o que creem ser melhor para si mesmos. Por gerações, os pais artesãos transmitiram a seus filhos o seu ofício pessoal, por exemplo. Sob a perspectiva de época, a construção de sua relação apresentava vários componentes importantes: compartilhavam momentos de entrosamento e de ensino; uma geração aperfeiçoava a que a outra lhe deixou como legado. Enquanto processo de vida, funcionava bem para a maioria dos casos, o que serviu para ser adotado como referência.

Quando esses referenciais não são questionados visando sua contextualização, tornam-se aprisionantes. A avaliação de um determinado percurso, mesmo que efetivo e até mesmo eficiente na composição de um ser, exige entender que os paradigmas ontem adotados estão baseados em perspectiva anacrônica, já ultrapassada: o trajeto de seus filhos, na atualidade, possui uma realidade muito diferenciada da que você viveu, durante o seu.

De modo algum seus valores deixaram de ser significativos. Mas precisam da referenciação pessoal: funcionaram para você, ou para a sua geração, se for possível ampliá-los de tal modo.

Os métodos educacionais se transformaram. A multiplicação das opções de profissionalização que as novas tecnologias propiciaram – seguindo a linha de raciocínio estabelecida –, mudaram os cenários. E reproduzi-los deixou de ser algo apreciável ou mesmo desejável. Mas ainda é muito difícil para a maioria dos pais, responsáveis e educadores se propor uma reestruturação dos seus métodos de ensino.

Como doença, a gripe produz o catarro e impede a respiração e a oxigenação. É necessário expectorá-lo, para recuperar a saúde física. Referenciais antigos atuam como essa gosma ou secreção, sufocando novas práticas. São obsoletos, ineficazes e um empecilho para o desenvolvimento de um ser sadio e em uso pleno de suas capacidades.

É necessário constituir uma disposição de mente e um olhar renovados. Quais práticas trazem de volta os elementos que fundamentaram os valores anteriores? Que tipo de tempo de compartilhamento, de transmissão de experiências pessoais, de visão de mundo está sendo estabelecido com a nova geração? Esse é o grande desafio da atualidade para todos os interessados em construir ambientes saudáveis para a formação da sua linha de sucessão.

Não tenha medo de desconstruir paradigmas para reconstruí-los sob uma nova perspectiva. Este é um processo de um valor inestimável: ao mesmo tempo em que propicia a você um desenvolvimento pessoal – e, como bônus, impede o tornar-se anacrônico ou obsoleto para quem você ama – abre um caminho de horizonte amplo, onde o respeito, a confidência, a cumplicidade e a presença verdadeira (não basta estar ao lado!) se estabelecem no comum acordo e, no caso de pais e educadores, estruturam as condições essenciais para a expressividade e a plenitude daqueles sob sua responsabilidade.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de agosto de 2017.

* Há uma má interpretação quando se diz que Desconstruir um conceito é Deturpá-lo. Não se aplica, pois o que está envolvido é recompô-lo aos seus elementos originais e avaliá-los individualmente; a seguir, verificar como foi feita a amálgama (a reunião deles) em sua composição final. Os elementos constitutivos nos dão a noção do que havia em jogo, no momento em que ocorreu a sua constituição e os efeitos produzidos.
Para a contextualização, esse método nos fornece elementos para compreender a valoração que o fundamentou. Em muitos dos casos, ótimos valores de época são a base. A questão que se nos apresenta, na atualidade, é: que elementos atuais os reativam?
Reproduzir o antigo porque foi bom não é saudável, se é possível renovar suas bases conceituais e práticas, pois a nova roupagem permite alcançar a nova geração.
Há que se temer o mau uso ou manipulação desse método, mas, isso é inerente à vida. Acredito que o melhor é buscar com afinco ser o mais eficiente possível na tarefa, e com isso, abrir novas perspectivas e positividades para o mundo.

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