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27 de jul. de 2017

Impulsos otimistas

Optimísticos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 27-07-2017.
Optimísticos *, criado em 27-07-2017.

Finalmente, não conseguiu mais conter-se e gritou muito, de prazer, da dor dos orgasmos seguidos, dos muitos homens e mulheres que tinham entrado e saído do seu corpo, usando as portas de sua mente.
Deitou-se no chão, e deixou-se ficar ali, inundada de suor, com a alma cheia de paz. Escondera seus desejos ocultos de si mesma, sem nunca saber direito por que – e não precisava de uma resposta. Bastava ter feito o que fizera: entregar-se.
Pouco a pouco, o Universo foi voltando ao seu lugar, e Veronika levantou-se. Eduard se mantivera imóvel o tempo todo, mas algo nele parecia ter mudado: seus olhos demonstravam ternura, uma ternura muito próxima deste mundo.
"Foi tão bom que consigo ver amor em tudo. Até mesmo nos olhos de um esquizofrênico."
[…]
Como aquela garota, por exemplo – cuja única razão por estar em Villete era ter tentado contra a própria vida. Ela jamais conhecera o pânico, a depressão, as visões místicas, as psicoses, os limites que a mente humana pode nos levar. Embora conhecesse tantos homens, nunca experimentara o que há de mais oculto em seus desejos – e o resultado é que não conhecia nem a metade de sua vida.
Ah, se pudesse conhecer e conviver com sua loucura interior! O mundo seria pior? Não, as pessoas seriam mais justas e mais felizes.

(Paulo Coelho — Veronika decide morrer, p.123-124, destaque meu)


Vez após vez, opções de momento tornam-se atos, fatos, sem que ao menos a pessoa esteja convencid[x] ou consciente a respeito. Exemplo disso é o revisitar passados, com todo o seu charme e, inclusive, os seus perigos.

Quase sempre, o melhor a fazer por alguém é deixar que el[x] siga sozinh[x], tenha a sua vivência e, com a experiência, aprenda a ultrapassar os riscos. Considere, primeiro, que essa não é uma permissão para [x] outr[x], é para si mesmo: deve-se, ou não, intervir diante de uma situação?

Há quem retorna ao passado visando algum futuro, outr[x]s para reproduzir alguma forma de satisfação. No primeiro caso busca-se alguma informação ou lição; no segundo, abre-se um espaço para a nostalgia. O risco se apresenta quando esta é exacerbada e toma a forma de alienação, de uma prisão estruturada pela prostração. Este ponto é onde o abatimento impede o gerar perspectivas de vida.

Disposição ou disponibilidade são peças chaves para quem entra no dilema da interferência – que se manifesta especialmente para os seres solidários – ao identificar alguém em crise ou em depressão. Apesar de ser evidente que há aqueles em que a interseção entre os dois fica manifesta, os casos de má fé não podem ofuscar os verdadeiros: se há pessoas que amam a vitimização pessoal e a usam conscientemente para a manipulação, há os que estão vivenciando momentos complicados. Se a vida apresenta desafios para quem consegue encará-los assim, imagine para quem só consegue olhar para eles como fardos pesados ou intransponíveis. A recorrência impõe a necessidade de um outro entendimento ou classificação, exige uma avaliação acurada.

Destoando do senso comum que, geralmente, confunde os níveis desses momentos de desalento, a atenção de profissionais de saúde precisa ser capaz de identificar as nuances, as tênues linhas entre o saudável e o doentio ou patológico. Há elementos que, se encontrados em níveis defasados no corpo, impedem o cérebro de atuar plenamente: a sua recomposição é fundamental para o retorno à plena atividade. É uma questão física, não emocional ou psicológica, apesar de interferir diretamente nelas.

O cotidiano ensina que uma boa prática, ao detectar qualquer caso assim, é dar impulsos otimistas, promover superações, instilar o vigor e estimular as tentativas renovadas. Em grande parte deles, identificar presença e cuidado é o bastante para gerar a vontade pessoal de transformar a situação e promover o ultrapassamento do momento. Portanto, essa é uma boa diretriz para a atitude inicial a ser adotada por cada um. Não resolvendo a questão, na totalidade, ainda assim será benéfica para todos.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de julho de 2017.

* Na antiguidade, o sagrado habitava a insanidade daqueles que, temporariamente ou de forma constante, ficavam à margem da mentalidade geral. Esses impulsos que percorriam seus corpos, alienando suas mentes, permitiam um contato mais imediato com o permanecia sutil em cada um, expressavam aquilo que os considerados sãos reprimiam.
Mesmo com todos os desenvolvimentos científicos atuais, ainda ficamos ensimesmados com o que brota da esquizofrenia e dos estados alterados da consciência.
Talvez – e isso não pode ser desprezado –, a sociedade tenha infligido o seu constrangimento ao ser, de tal forma, que o que lhe resta, como um artifício para não desintegrar-se, seja expressar vividamente seu brilho – ao preço de vê-lo consumir-se brevemente –, até que só reste uma angustiante reclusão em um mundo interior opaco, inerte e inexpressivo; ao que denominou-se depressão.

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