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6 de jun. de 2010

Efeito pic-tá

Rizoma - autor da foto não disponível Rizoma - autor da foto não disponível


O rizoma da botânica, tanto pode funcionar como raíz, talo ou ramo,
independente de sua localização na figura da planta.
Para Deleuze e Guattari, o rizoma, como um sistema a-centrado,
seria, portanto, a expressão máxima da multiplicidade
em detrimento às condições de um todo disciplinador,
um totalitarismo estrutural (raiz e radícula).
Sustentam que a estrutura do conhecimento não deriva,
por meios lógicos, de um conjunto de princípios primeiros, mas sim
elabora-se simultaneamente a partir de todos os pontos
sob a influência de diferentes observações e conceitualizações

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rizoma_%28filosofia%29)



Já brincou de pic-tá?

Ih!, melhor definir, pois cada lugar tem seu nome para a brincadeira, certo? Pois bem, a brincadeira consiste em uma pessoa que é escolhida como o pegador e os outras que precisam fugir para não serem tocadas pelo pegador ou por quem ele já tocou.

O interessante dessa brincadeira é a virada que acontece.

De início o pegador é o solitário. Ele é o único do seu lado e precisa de um esforço enorme para conseguir alcançar mais um. Mas, ao conseguir, as coisas começam a facilitar um pouco, pois são dois em busca do resto.

Já percebeu, não é? Chega o momento em que as forças se equilibram e, rapidamente, os pegadores se tornam maioria, exigindo um grande esforço para fugir por parte do grupo intocado.

Vejo, no dia a dia do mundo em que vivo (deve haver outros!), o que chamo de efeito pic-tá acontecer muito esporadicamente: aqueles que estão na minoria, dificilmente se esforçam para encontrar aliados para facilitar o ultrapassamento de suas questões - mesmo quando cobertos de razão.

E, por incrível que pareça, todos acham isso normal, isto é, até que aconteça com você.
  • Um produto com defeito e a firma não quer trocar ou consertar;
  • O funcionário do balcão que vai atendendo 'os conhecidos' primeiro, mesmo que você tenha chegado antes;
  • O carro que tem problemas sérios de segurança e, sem a determinação da justiça, a montadora não faz o seu 'recall' ou seja, chama as pessoas prejudicadas para a substituição ou acerto da peça que causa o problema;
  • A companhia telefônica que não faz a cobertura de modo correto e faz um menu de secretária eletrônica 'inteligente' que não entende nada do que você diz (nem mesmo quando, mais do que impaciente, você xinga);
Poderia continuar a lista, mas acho que você já está fazendo isso, não é mesmo?

A cultura da impotência parece estar enraizada em um povo que, durante muito tempo, teve seus direitos cassados. Mas como se produz algo novo nesse campo, ou seja, uma mentalidade afirmativa em que Direito é direito, não é esmola, não é concessão, não é caridade?

A falta de educação formal pode contribuir para essa passividade, a pobreza também: quando a sobrevivência está em primeiro plano não dá para se preocupar com firulas ou frescuras. E lá vai mais uma criança trabalhar no campo, nas cerâmicas, nas tecelagens e nas fábricas de produtos eletro-eletrônicos (mãos pequenas são ótimas para lidar com transistores...). E, é claro, deixar de estudar.

Na contramão disso, há pouco tempo, tivemos uma mobilização popular imensa em favor do projeto Ficha Limpa, que impede políticos julgados por crimes de qualquer tipo possam se reeleger ou se eleger. Percebo três coisas muito importantes que a marcaram. A primeira é que as adesões cresceram exponencialmente, por meio da internet. A segunda, é que conseguiu mobilizar as pessoas para atos e manifestações, inclusive no Congresso brasileiro. A terceira, é que foi vitoriosa. Se você consegue avaliar, foi exatamente o efeito pic-tá em ação.

Outros processos se valeram desse efeito: quando as mulheres cansaram de ser espancadas ou desrespeitadas; quando os negros e descendentes diretos se cansaram da dominação; quando os gays desistiram de ficar 'no armário' para não serem agredidos; quando se percebeu que os idosos, as crianças e adolescentes estavam desamparados pela legislação. E por aí vai.

Hoje em dia, na internet, classificamos um movimento de viral quando ocorre a multiplicação de indivíduos que repassam algum tipo de questão, informação ou campanha por meio de sua lista de contato, e estes repassam adiante, multiplicando com isso os esforços. Ocorre, também, na distribuição de conteúdo dos projetos de leis em curso por blogs, sítios e portais que repassam informações como endereços eletrônicos e telefones das casas legislativas e de políticos e informam quando há uma tentativa de 'virada de mesa' por parte destes. Tudo isso simultaneamente. Entendeu o rizomático da minha citação?

Eu acredito que é preciso incentivar essa onda. O nosso povo deseja uma mudança. Não uma revolução de armas, mas de paradigmas: a metanoia - mudança de mente, conversão.

E, é claro, você pode começar a fazer a diferença. Vai passar adiante essa idéia?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de junho de 2010


* No meu orkut comecei uma campanha diferente: Não ao vacilo!

2 comentários:

Raphael Teixeira disse...

Muito boa a analogia com o pic-tá! Gostei muito da postagem! Parabéns tio!

ETNOPENSAMENTOS disse...

Gostei, estava lendo mil platos e achei seu blog pelo Google.