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6 de out. de 2009

Poderia ser diferente

Focinho, criado por Alexander Kharlamov Focinho, criado por Alexander Kharlamov*


"…vai dizer que você prefere o ódio ao amor? Então neguinho, me diz, qual é?"
(Qual é? - Marcelo D2).


Não!, é algo inteiramente distinto do ódio o que nos faz ir adiante, aprender. Mas acredito que o ódio seja a mais primitiva forma de aprendizado: com a dor.

O ódio, em si, não ensina, ele causa o sofrimento e a dor, estes sim, são capazes de trazer algum aprendizado; o mais básico, do tipo 'doeu, eu evito'. Já levou um choque? Já se queimou? Já tropeçou?

O ódio é um mecanismo de autodestruição. É um modo de usar a energia da vida para desfazer a vida, transformá-la em partes menores, rompendo os encontros que, acumulados, aglutinam e geram novas formas de ser e estar no fluxo, no complexo energético que é este mundo.

Não é preciso ser um gênio para perceber que há formas mais elegantes, elevadas, eloquentes de se aprender que não a pelo ódio. Mas quão difícil é acessá-las conscientemente e optar com convicção por essas vias.

Todos ainda carregamos uma espécie de primitivismo espiritual, uma barbárie em nossos elementos constituintes, algo de que precisamos apenas para dar os primeiros passos e que logo se tornou obsoleto diante dos novos instrumentos ao nosso dispor - obtidos após os aprendizados iniciais da vida.

É como uma tralha que enche de peso a nossa bagagem e impede um caminhar mais confortável e, no entanto, parece que nos apegamos a ela.

Como é difícil entender: aprendeu, segue adiante, descubra novas formas de aprender. A experiência absorvida se tornou a parte integrante de nós que nos ensina a não repetir os erros anteriores. Não será necessário usar os mesmos mecanismos ou deixá-los a disposição para um possível uso futuro.

Alguns argumentam que nosso cérebro-quase-pré-histórico é o que nos mantém vivos, pois é acionador dos reflexos nos momentos de perigo. E a nossa intuição não seria um elemento muito mais eficaz para nos proteger, nos resguardar quando damos ouvidos e atenção necessários?

A adrenalinha da raiva é o melhor meio de tornar o corpo pronto para responder às agressões externas? Será que o ataque é a melhor defesa? Será que já não acumulamos o suficiente para não invadirmos o espaço alheio e provocarmos esse tipo de reação de ataque para a defesa? Respeito aos seres não garante atitudes melhores de ambas as partes, de modo a evitar a maioria dos conflitos que existem no mundo?

Qualquer que seja o sistema político, econômico, religioso, ele é apenas uma forma de interação social de modo a podermos compartilhar nossas vidas, criarmos os meios de colaboração e de desenvolvimento. São instrumentos e não um fim. O que quer que seja mais essencial para cada um de nós não está atrelado a nenhum deles.

Por que, então, somos tão sectários? Quem gosta do vermelho, e não do azul, não presta? Quem não torce pelo mesmo time, quem não está na mesma religião ou professa nossos conceitos filosóficos não serve? Geramos guerra e discórdia, diariamente, por optarmos por viver assim.

É isso mesmo! É opção. Todos podem agir por interação, compartilhamento, visando o desenvolvimento mútuo e a superação dos obstáculos coletivamente.

Indivíduos, sim, mas partículas de um todo. Partes da mesma natureza que luta para alcançar equilíbrios cada vez mais bem sucedidos. Exercitando uma troca de energia constante, onde o que eu tenho de melhor e em maior quantidade, meus dons e minhas capacidades, vão em auxílio a outro que o possui em menor escala e, num fluxo maravilhoso, este que recebeu colabora com o que um outro não possui: um organismo vivo, onde cada peça é fundamental e essencial; nem melhor, nem pior.

Imagino esse movimento como um fluxo de energia que percorre todo o fio, se transmitindo por meio de cada parte, numa grande conexão universal.

Comecei falando de ódio porque uma ideia me fez tremer quando pensei nesse incrível mecanismo de doação universal (amor é uma boa palavra para ele?), algo que não havia pensado antes, em toda a minha vida: o ódio também se propaga dessa maneira só que, em vez de acrescentar, ele retira algo de cada elemento, que ficando deficiente retira do elemento a seguir, como elos de um cadeia que aprisiona e suga sempre, sem acrescentar nada.

E quanto mais vejo ou ouço ou participo de um fluxo de ódio (roubos, assassinatos, guerra, discórdia, ira), ativa ou passivamente, mais eu me envergonho com o pouco que contribuí para a transformação dessa realidade e desejo, ardentemente, me aperfeiçoar para poder contribuir um pouquinho mais com a vida.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 outubro de 2009.


* Desculpem-me aqueles que esperavam uma arte minha, aqui. Ódio é um tema muito difícil pra mim.

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