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14 de jan. de 2018

Sinalização e limites

Sinalizações, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 15-01-2018.
Sinalizações *, criado em

E no instante está o é dele mesmo. Quero captar o meu é. […]
E eis que percebo que quero para mim o substrato vibrante da palavra repetida em canto gregoriano. Estou consciente de que tudo que sei não posso dizer, só sei pintando ou pronunciando, sílabas cegas de sentido. E se tenho aqui que usar-te palavras, elas têm que fazer um sentido quase que só corpóreo, estou em luta com a vibração última. Para te dizer o meu substrato faço uma frase de palavras feitas apenas dos instantes-já.

(Clarice Lispector — Água Viva, p. 7 e 9)


Não sou exceção porque acontece muitas vezes na vida de também desejar uma sinalização mais evidente sobre o melhor caminho a seguir e me deparar com o silencio.

As superfícies estão aí com os seus marcos que mais se parecem com hieróglifos, símbolos de uma escrita a ser decifrada. Às vezes, o corpo tem uma apreensão própria e sinaliza a aproximação ou a repulsa; mas, em muitos outros momentos, encara o impermeável aos seus escrutínios, por mais que se insista.

Tento identificar a minha essência naquilo que estou vivendo e no que me torno. Sou uma escultura em fase de aperfeiçoamento: as ferramentas da vida abrasaram dolorosamente e rasgaram a superfície do meu corpo, mas percebo que estão estabelecendo linhas com mais equilíbrio e beleza na alma.

Esculpir-se exige conseguir estabelecer além de uma razão, um referencial de equilíbrio nos instantes de confusão para suportar cada desafio.

Simultaneamente doloroso, assustador e de uma beleza selvagem: de suas profundezas, a terra jorra magma que refaz e alimenta a sua superfície. Nossa natureza também o exige: é preciso constituir ambientes favoráveis para trazer à tona o melhor e o pior que nos habita. Encará-los com dignidade de quem aceita o que é, mas encontrar os pontos de transição e transformação para efetuá-los.

É preciso humildade para entender que, se a imensidão nos chama, o infinitesimal também. Temos o infinitamente grande guardado no peito, mas ainda expressamos as pequenas tiranias e a mesquinhez da nossa humanidade.

Podemos nos situar limítrofes, avançar numa linha de equilíbrio transitório, investir na ampliação das potências da vida. Mas, se surgir aquele instante mágico quando conseguimos estabelecer uma abertura maior no compasso que delineia os fluxos que nos determinam, uma expansão pode ocorrer e promover um novo território – com as aventuras, prazeres e dores que o desconhecido sempre oferece. É uma renovação, mas num novo patamar: algo que podemos denominar como recomeço.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de janeiro de 2018.

* Como um fluxo de água viva e pujante, ao mesmo tempo destrutiva e constitutiva do novo, a vida nos fornece desafios, experimentos capazes de gerar transformação quando assimilados. Disfarçados neles, em um conjunto de sinais, um manual de superação. É preciso encará-los e, a seguir, destilar seus venenos. O resultado é a renovação, um recomeço em outras bases, além de uma reserva em energia pessoal para compreender melhor as próprias necessidades e dar passos ao seu encontro.

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