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19 de jan. de 2018

Registros de alma

Registros de alma, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 18-01-2018.
Registros de alma *, criado em 18-01-2018.

De almas sinceras a união sincera nada há que impeça:
Amor não é amor se quando encontra obstáculos se altera, ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora, antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou, eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

(William Shakespeare — Soneto 116)


Residindo como um núcleo no interior da alma e se manifestando com pleno controle da estrutura física de alguém estão as forças de aproximação intensa: as diversas formas de amor capazes de realizar alguém. Conexões atemporais inerentes e em estado potencial que, circunstancialmente, manifestam-se.

Caracterizam-se pela capacidade de eternizar marcas na alma e no corpo que, continuamente, exigem ser reacendidas. Cada uma capaz de recompor um universo particular cuja ausência não impede o retornar do que foi vivido, se a chama interior brilhar.

A virtualização do outro é sua aquisição como um registro de alma. Torna-se um holograma: gera a sensação de presença e ocupa brechas ou espaços vazios.

Em alguns casos, de tão forte, a manifestação dessa conexão ultrapassa a razão – torna-se um sentido extra que assume uma situação – como as estranhas vivências onde, ao tempo em que se pensa, o contato ocorre no plano físico, via mensagem ou ligação telefônica.

Tenho como um aprendizado de minha vida perceber o irrealizável nos amores verdadeiros: mesmo que ocupem completamente a alma de alguém, o sentido de completude é instável e fluido, vem e vai, preenche e esvazia, sacia e depois torna faminto, novamente. É um encher a taça, saborear até o fim, iluminar-se ao se realizar e, depois, repousar. Mas a sua pausa é como a de uma melodia, que intui a próxima nota e exige a sua execução, provocando, imediatamente, o retorno de sua operação no momento seguinte — a necessidade se torna uma constante.

Não entendo isso como vício, mas como um recurso da natureza para nos impedir a paralisia, o contentamento, a satisfação plena. Como qualquer outra forma de alimentação, seu poder de efetuação é momentâneo. Ainda que reestruture todo o corpo e reacenda a alma, o faz apenas até que ocorra o seu consumo. E o ciclo retorna, infinito enquanto a existência conseguir se perpetuar. Bem… para alguns, essa é a única forma de ligação que não morre: amor se eterniza porque estabeleceu residência na alma.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 18 de janeiro de 2018.

* Aventuras e desventuras sempre aguardarão os amantes, não à toa, as artes o empoderaram como sua máxima. Capaz de sacudir qualquer um, alterar o curso da história, esse elemento que se introduz na alma e mantém-se como um registro nela, parte integrante do ser, pode provocar as maiores tolices da vida e, simultaneamente, a sua realização.

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