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6 de jan. de 2018

Interseções e intimidade

Intimidade criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05-01-2018.
Intimidade *, criado em 05-01-2018.

Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é matéria de salvação.
Mas todos os problemas já tinham sido tocados, todas as possibilidades estudadas. Tínhamos apenas essa coisa que havíamos procurado sedentos até então e enfim encontrado: uma amizade sincera. Único modo, sabíamos, e com que amargor sabíamos, de sair da solidão que um espírito tem no corpo

(Clarice Lispector — Felicidade Clandestina, p.14)

Intimidade é uma sequência de encontros-desencontros que vão sendo superados ou apropriados e promovem um conhecimento ampliado das interseções entre os seres. É possível promover pontos conectados pelo estabelecimento de uma ponte de comunicação interpessoal. Mesmo que linguagens, interesses e objetivos sejam diferenciados, é possível criar formas de aproximação, ainda que temporárias e frágeis, até que possam ter o seu núcleo ativo e estimulado como um ímã.

Nos mundos individuais os acontecimentos são como eventos disparadores de reações específicas, sempre em acordo com o modo de ser ou estar no instante em que acontecem. Em geral ocorrem, com a mesma quantidade e intensidade, situações estressantes, que geram atritos e separações, e aquelas que constituem novas conexões ou restauram a potência das anteriores.

Em qualquer delas, as pequenas rupturas deixam fios soltos, desencapados. Sempre existirão lacunas, marcas, inseguranças e fragilidades, sendo necessário promover encontros que tragam à tona as forças de aproximação e a constituição de novas formas de ligação mais prazerosas e edificantes. Diante das farpas, escolhe-se ir recolhendo-as uma a uma ou se expõe ao disparo de reações exacerbadas, uma vez que são reprises que acumularam resíduos de outras, anteriores.

No geral, os sentimentos que repercutimos são uma certa vibração ou ressonância que, como determinados tipos de música, atraem ou repelem quem é sensibilizado por elas. Constituir intimidades exige, então, para além de ser o que se é de forma plena e expressiva, ter aptidão para se permitir ser afetado pela diferença e ser tocado de uma forma mais profunda.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de janeiro de 2018.

* Esgarçar, estirar, rasgar são ações conectadas aos tecidos, inclusive o das relações humanas. Nelas, diariamente, as forças de repulsão entram em embate com as de aproximação. O equilíbrio frágil entre um ser e outro é de uma dimensão muito diáfana, quase transparente. Entender isso, permite decidir evitar as rachaduras e as farpas que destituem seu poder de gerar a intimidade e, com ela, possibilidades maiores de tornar a si tanto quanto ao outro seres mais plenos e felizes.

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