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21 de jan. de 2018

Ondas que nos movem

Ondas,  criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 20-01-2018.
Ondas, criado em 20-01-2018.

Às vezes o mar lhe impõe resistência puxando-a com força para trás, mas então a proa da mulher avança um pouco mais dura e áspera. E agora pisa na areia. Sabe que está brilhando de água, e sal e sol. Mesmo que o esqueça daqui a uns minutos, nunca poderá perder tudo isso. E sabe de algum modo obscuro que seus cabelos escorridos são de náufrago. Porque sabe – sabe que fez um perigo. Um perigo tão antigo quanto o ser humano.
(Clarice Lispector — As Águas do Mundo, Jornal do Brasil, 13/10/1973.)


Há uma certa atitude que é preciso assumir quando se adentra a praia, que ultrapassa o encantamento: o respeito por algo capaz de despertar o senso de infinito. Fora isso, é preciso entender que a água é maravilhosa e perigosa, simultaneamente.

Durante a juventude, me permiti um certo gosto por saltos de alturas diferenciadas. Em várias situações precisei desenvolver a reorientação espacial, para não perder o ponto de partida e regresso ou para aventurar-me um pouco além. Em outras, descobrir novos equilíbrios, indefinida e constantemente, se o mar repentinamente ficava 'crespo' e agitado e promovia o sobe e desce e o soçobrar de um lado para o outro.

As possibilidades de escolha e da tomada de decisões imediatas e circunstanciais como tocar a areia apenas em alguns momentos ou constantemente; de aproveitar a agitação para deslizar sobre a crista das ondas ou adentrar seu núcleo e deixá-la passar.

A chance de pertencer à imensidão, como elemento integrante e ativo, e ter essa noção de forma tão vívida é algo particularmente envolvente e instigante para mim. Talvez, por isso, praia esteja ligada à companhia de pessoas cuja relação comigo esteja bem estruturada, os que considero companheirxs e parceirxs da jornada da vida.

O litoral me toma em níveis diferenciados, mas para além da sedução de toda a diversão, sou um ser que se espiritualiza quando está diante ou nas águas e, nesses momentos, me deixo levar em ondas muito mais diáfanas e sutis *. Entro em um nível de reflexão e meditação profundos, uma verdadeira reavaliação de percurso e de onde me encontro, atualmente. Em todas as oportunidades, saio outro: mais leve, mais pleno de mim e – algo que considero crucial – consciente da interligação ao universo e aos outros.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 20-21 de janeiro de 2018.

* Muitas das experiências que provocaram extensões sensoriais, percepções ampliadas, equilíbrios inesperados estão relacionadas a um encontro com rios, cachoeiras, lagoas ou mar. Águas conseguem exercer um papel purificador, conscientizador e integrador em mim. Muito do que vivi foi algo compartilhado, em níveis diferenciados, é claro, e gerou uma imensidão de boas recordações que permeiam esse momento de escrita. Demarco esses encontros como os melhores momentos de vida. Muitos investiram na construção desses instantes mágicos e deixo aqui minha gratidão a todos – vocês foram e são capazes de reacender o brilho na alma e o sorriso nos meus lábios: Caiam na PAz!

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