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14 de out. de 2017

Singular e Diferenciado

Emanações, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12-10-2017.
Emanações, criado em 12-10-2017.

E no instante está o é dele mesmo. Quero captar o meu é. E canto aleluia para o ar assim como faz o pássaro. E meu canto é de ninguém. Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.
Meu tema é o instante? meu tema de vida. Procuro estar a par dele, divido-me milhares de vezes em tantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos — só me comprometo com vida que nasça com o tempo e com ele cresça: só no tempo há espaço para mim.
(Clarice Lispector — Água Viva, p.7)

Usa-se a palavra singular para um caso único e plural para vários. O universo gosta da singularidade. Não é necessário apelar ou usar de conceitos complicados para demonstrar que a única constante no universo é a diferenciação. Tudo nele é exclusivo e único: todos os seres são seus filhos 'unigênitos', para se usar um termo bíblico conhecido.

Haverá falhas em cada tentativa de se generalizar ou criar regras gerais porque, por maiores semelhanças que haja entre indivíduos de uma determinada espécie, estes nunca serão iguais.

Só vai adiante a diferença que permite se adaptar às transformações permanentes e, muitas das vezes, radicais em seu ambiente. Nem sempre se pode contar com a ideia de evolução – o caso quando dá certo uma determinada diferenciação –, na maioria das vezes, ocorre a regressão ou extinção.

O universo não perdoa, nem é gracioso nesse sentido. Sua graça e beleza está na forma igualitária com que dispõe os recursos. Qualquer um de seus elementos têm um campo de possibilidades literalmente infinito para se apropriar durante a sua duração ou tempo de vida.

Pode haver mais, Porém, duas estratégias são comuns (opostas, mas uma não exclui a outra): cooperação ou domínio-submissão. Em qualquer um, a sobrevivência (ou permanência) está na capacidade de composição, de fazer encontros para absorver ou trocar os elementos particularmente necessários.

Notadamente, os agrupamentos se constituíram como refúgio para escapar das dificuldades coletivas existentes. As variações individuais, como meio para melhor adaptação. Nos contextos menos radicais, avança quem combina as duas e, nos demais, aquele cuja diferença permite um encaixe melhor no quebra-cabeça que se formou.

Num universo onde não há Leis imutáveis, a única constante é a diversidade e quando essa determinação é quebrada o cronômetro da extinção se inicia. Isso porque a regressão também é uma forma de ir adiante: a fixidez e o imobilismo torna algo anacrônico, obsoleto, sem uso adequado *.

Se opor ao que é cronológico, num universo que exige continuidade e adaptação às novas necessidades, é decretar falência e morte. Não importa quão lento, é preciso mudar e se deslocar do anteriormente estabelecido, do contrário a vida cessa.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de outubro de 2017.
* Em grande medida, pensar cientificamente exige sair do lugar comum, do esperado (agradeço por esse aprendizado aos grandes pensadores – em todos os campos de conhecimento – da história da humanidade!). Mas é possível o esforço para gerar uma linguagem acessível, sem abrir mão do rigor necessário. Clinton Richard Dawkins é um divulgador dese tipo de conhecimento e sugiro a leitura de O capelão do diabo (uma coletânea de escritos). Há seriedade, mesmo nos muitos e controversos ataques a alguns pensadores. Não houvesse, perderia seu valor para mim. Vou em direção diversa da dele, mas suas críticas permitem aperfeiçoar minha lógica e fugir às armadilhas em que muitos caem ao recorrer apenas ao palavrório sem consistência.
Escrevendo com paixão e clareza, Richard Dawkins, um dos mais influentes divulgadores de ciência em atividade, não hesita em se posicionar perante temas polêmicos, sempre em busca da verdade científica:
O único membro da lista que é capaz de regularmente persuadir os neófitos quanto à sua superioridade é a verdade científica. As pessoas são leais a outros sistemas de crença pela simples razão de que foram criadas daquela maneira e nunca chegaram a conhecer uma alternativa melhor. Quando elas têm a sorte de poder escolher, os médicos e outros profissionais do gênero prosperam, ao passo que os feiticeiros entram em declínio. Mesmo aqueles que não têm, ou não podem ter, uma educação científica optam por se beneficiar da tecnologia que a educação científica de outras pessoas tornou disponível. É fato reconhecido que os missionários religiosos converteram um enorme contingente de pessoas em todo o mundo subdesenvolvido. Mas, se eles foram bem-sucedidos, não foi pelos méritos de sua religião, e sim devido à tecnologia de base científica que, compreensivelmente, porém ainda assim de maneira injustificável, trouxe reconhecimento à religião. (p.43)

Para dizer uma vez mais, a ciência não tem meios de responder se um aborto é um assassinato, mas ela pode nos alertar que talvez sejamos incongruentes ao afirmar que o aborto é um assassinato enquanto matar chimpanzés não é. É preciso ser coerente. (p.95)

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