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23 de jun. de 2017

Engrenagens do pensamento

Engrenagens, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 23-06-2017.
Engrenagens *, criado em 23-06-2017.

Além dos objetos designados, além das verdades inteligíveis e formuladas, além das cadeias de associação subjetivas e de ressurreições por semelhança ou contiguidade, há as essências, que são alógicas ou supra lógicas.
Elas ultrapassam tanto os estados da subjetividade quanto as propriedades do objetivo.
É a essência que constitui a verdadeira unidade do signo e do sentido; é ela que constitui o signo como irredutível ao objeto que a emite; é ela que constitui o sentido como irredutível ao sujeito que o apreende.
Ela é a última palavra do aprendizado ou a revelação final.

(Gilles Deleuze — Proust e os signos, p.37-38)


Um pensamento, para que receba essa denominação, precisa ultrapassar a razão simples, o óbvio, com o exercício de uma investigação — dentro do escopo e do acesso a fontes de dados de cada um — até que se estruture num raciocínio lógico.

O nível de estruturação de qualquer raciocínio — dentro dos que acatam a crítica antes da expressão desenfreada de opiniões — sempre permitirá rupturas, brechas, pontos com sustentação menos consistente, por conta dos diversos modos de apreensão da realidade: do tipo de informações obtidas (acuradas, fragmentadas, ocultadas, indisponíveis), do estabelecimento de uma estruturação interna e externa coerentes.

Pontos controversos trazem à pauta reavaliações — fundamentos, avaliações e interpretações, modos de expressão e apresentação, tipos de conclusão —, portanto, dificilmente podem ser desconsiderados ou, pior, desqualificados. Acatá-los, exige disposição, exige ultrapassamentos, exige um reordenamento dos sentimentos e da aceitação dos limites pessoais. E isso nada tem a ver com neutralidade. Todo pensamento carrega uma interferência de disposições e preferências do ser que o exercita.

Esse movimento contínuo de retorno às bases, de reavaliações, de avanço para formas mais apuradas, do acatamento e inclusões de raciocínios mais eficientes durante os diálogos e debates é o processo de crescimento e de expansão das capacidades pessoais. Algo mais que bem vindo.

A bem da verdade, o melhor é sempre procurar o embate com outros seres pensantes, exatamente para pôr à prova as estruturas já desenvolvidas e, a seguir, para assimilar estruturas mais eficientes ou diferenciadas das que se conseguiu apreender.

Um bom combate sempre enaltecerá seus participantes, uma vez que raciocínios pífios são desperdício de um tempo importante, desmerecendo a consideração. Encontre sempre oponentes capazes de fazê-lo avançar, ampliar a visão e expandir sua capacidade; mas seja generoso no processo didático e colabore com os iniciantes: eles são os novos navegantes nos mares das descobertas, da imaginação criativa, crítica e capacitadora.

O legado — que é, talvez, o mais importante — a se deixar é esse brilho nos olhos que a descoberta do novo e o descobrimento das capacidades pessoais pode ofertar. Acende o fogo interior e essa chama, uma vez acesa, jamais apagará.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de junho de 2017.

* As intercorrências da vida são como um brilho que, de repente, ilumina o campo de visão e permite perceber as engrenagens que o constituem. Cabe a cada um, individual ou coletivamente, utilizar esse momento e potencializar as bases que sustentam o seu pensamento, de modo a instituir novas e mais eficazes práticas de vida.

Dedico esse texto aos meus filhotes e companheiros dessa breve jornada.

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