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22 de out. de 2017

Filhos da Revolução

Filhos da Revolução, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-10-2017.
Filhos da Revolução, criado em 21-10-2017.

Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurraram com os enlatados dos U.S.A., de nove às seis: desde pequenos nós comemos lixo comercial e industrial.
Mas, agora, chegou nossa vez: vamos cuspir, de volta, o lixo em cima de vocês!
Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, somos o futuro da nação: Geração coca-cola.
Depois de 20 anos na escola não é difícil aprender todas as manhas do seu jogo sujo – não é assim que tem que ser!
Vamos fazer nosso dever de casa e aí, então, vocês vão ver suas crianças derrubando reis, fazer comédia no cinema com as suas leis.
Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, somos o futuro da nação: Geração coca-cola.

(Legião Urbana — Geração coca-cola*)

Estou idoso (para além da metade aceitável dos anos de vida que ainda me permitem a expressividade plena) e meu olhar ousa escapar das verdades que foram estabelecidas para esse momento histórico. Prefiro uma percepção de eternidade – um olhar que não se deixa capturar pelas imposições instantâneas e temporais e ousa usar tudo disponível como propulsor visando um novo entendimento. Sou irascível, sim! (me irrito com facilidade diante de fundamentalismos e extremismos). À impressão que eu tenho, sou odiado por muitos, amados por poucos e para ninguém ocupo a posição de alguém que abriu mão de ser verdadeiro: quando disputam ou brigam comigo, eu sinto o seu cuidado em primeira mão.

Liberdade, Beleza, Verdade e Amor, os ideais dos Filhos da Revolução, Paris em 1900. Eles chocaram os valores padrões de sua época, no mundo todo. O que àquela época e atualmente se esquece, a extravagância dos jovens e sua chama deve ficar intocada pelos poderosos abraços da estabilidade e das convenções sociais que move o mundo. Replicada em tantos momentos da história, a sua força genuína promoveu o cerne dessa espetacular fonte de transformação social: a ruptura para efetuar a evolução (só de vez em quando, retrocesso!).

É preciso não desvalorizar os discursos e suas lógicas, razões e provocações íntimas que constituíram a representação do pensamento estabelecido por uma geração. Como a da atual. Mas, por favor, entenda que, em todas, os avanços também foram frutos da ruptura com os valores anteriores.

Exageros à parte (concordo com o Cazuza: jovens são exagerados – e tenho uma certa saudade disso!), com todos os possíveis erros e retornos indesejados (o conhecimento histórico não é o forte de qualquer nova geração!), eles investem a alma naquilo que acreditam (e é fundamental não dizer 'para o bem e para o mal', aqui.).

Constantemente preciso me recordar desse fogo que abrasou a minha alma para não cair em tentação de desacreditar da juventude: o tentar (errar e acertar), o tempo e o espaço pertencem a eles, não a nós os idosos (menos ainda aos que se permitiram ser velhos, qualquer que seja a sua idade.).

Virar a página sempre será necessário, do contrário todas as emoções que nos aguardam se tornarão frases repetitivas sem conteúdo: que o mundo deles seja exatamente o que seu investimento (pensamento, seu suor e sua luta) conseguir obter, não mais! Não importa o quanto esse meu sentimento – pleno de amor – lhes deseje um mundo perfeito. Faço uma pausa de declarar: 'Essa é a grande utopia: sonhar com um mundo melhor para as gerações que nos seguem! (estou sentindo, mas do que pensando, nos sobrinhos(-netos) e netos, afilhados e, em especial, nos encontros de alma – aqueles que se estruturaram por um duplo-coração desejando.]'.

Escrevo em um computador cujo núcleo (somente neste instante) poderia ser considerado de 'última geração', com uma tela que reflete o máximo possível de pixels, e com isso, detalhes de cores e profundidade. Aprecio profundamente o que o novo traz à vida, sem abrir mão da crítica ao que isso provoca ao (meio) ambiente. São eles, xs meninxs de hoje, xs capazes de rejeitar os refugos como aceitáveis, são elxs que exigirão a sustentabilidade da vida (corpo, alma e espírito), que nós arduamente lutamos para que se tornasse a pauta de qualquer investimento.

Eu amo a meninada. Isso eu me permito todos os dias: conviver com os possíveis seres pensantes que radicalizarão a verdade e não os discursos fundamentalistas que visam a desagregação humana. Me integro e me entrego de corpo e alma em prol da vida igualitária, dos processos de aceitação independente de diferenciação. Em qualquer nível!

Eu sou fruto de uma geração que questionou o estabelecimento de um padrão de individualidade e instituiu em seu lugar a subjetividade: só é possível dizer que há vida ser se houver, durante cada fase de estar, espaço para que o interior se expresse exteriormente – com ou sem críticas. Meus predecessores optaram por correr o risco de aceitar o risco de aflorar práticas doentias à escolher ocultá-las – e, com isso, avaliá-las e, quando necessário, curá-las (ou demonstrar que foi essencial liberá-las!).

Continuo lutando (dói mais agora que antes): eu me recuso aceitar a fragilidade (mesmo que a natural), prefiro a cabeça erguida. Fui precedido por exemplos valorosos que estão incrustados em minha alma e no meu corpo. Mas, meu compromisso não é com eles, do mesmo modo que o deles não foi apenas comigo – o mundo precisa de transformadores e vale ousar ceder a energia que me move em prol deles. Vai dar certo? Claro que não: o mundo nunca será perfeito!

De tão difícil entendimento, o avanço é o que mantém a vida; a diferenciação é a única porta para a transformação. Vejo entristecido os que, todos os dias, ouvem e reproduzem aquele discurso de que 'se não fizer diferente, o resultado vai ser o mesmo' e, por incrível que pareça!, em sua maioria, imploram pela escravidão da repetição e não pela liberdade. Ser idoso tem algo de bom: eu posso, ao olhar para o passado, dizer: 'nada mudou!'.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 22 de outubro de 2017.

* Ainda hoje, não se compreende esse genial sarcasmo do escritor e músico Renato Russo: os filhos dos ricos cheiravam Cocaína e os dos pobres cheiravam a Cola de sapateiro, e formavam a nova geração, modelada pelos 'enlatados' – programas de TV americanos, que são reproduzidos no país desde a época da Ditadura Militar.
Em sua visão, a arte (a música e o cinema, em especial) seria o veículo da crítica aos padrões estabelecidos (e corrompidos).

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