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22 de jan. de 2017

Sobre transistores e transições

Transitivos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 22-01-2017.
Transitivos, criado em 22-01-2017.

Intolerância e dogmatismo são conceitos intimamente relacionados com o autoritarismo. Não é uma questão de inteligência, mas as pessoas de mente aberta são capazes de resolver problemas com mais rapidez e parecem capazes de sintetizar informações mais rapidamente para gerar novas ideias.
É por isso que elas parecem gostar mais de problemas diferentes, difíceis e estranhos. Já as pessoas intolerantes, de mente fechada, tendem a ficar agressivas ou se retirar quando confrontadas com novas ideias.

(Adrian Furnham — Personalidade autoritária, p.89)


Para produzir a evolução da eletrônica, inclusive dos computadores, foi fundamental ultrapassar as válvulas. O transistor (do inglês TRANsfer reSISTOR) é um dispositivo capaz de amplificar, corrigir ou interromper o sinal elétrico transferido. Com ele foi possível a eficiência e equipamentos muito menores (é possível reunir milhões dos que possuem 22 milionésimos de um milímetro em um único microprocessador). Perceba que, ao se unir os conceitos de menores gasto e dispersão com o de maior aproveitamento, foi iniciada uma revolução que conduziu aos computadores quânticos da atualidade.

Transição tem outros sentidos e exemplos. Em genética e bioquímica, uma transição é uma mutação que provoca a transformação nos elementos do DNA. Na montagem cinematrográfica, a transição é uma substituição gradual de uma imagem para outra, gerando efeitos sensíveis no expectador. Se pensarmos feixes de energia luminosa, a produção do arco-íris dará uma ideia de transição entre o que percebemos como cores e muita poesia. Em todos, a potencialização criativa e inteligente.

Seres humanos costumam demarcar períodos, como as estações, anos, datas festivas, por facilitar os processos de avaliação das conquistas e de planejamentos. Acontecimentos registrados como bons ou maus estão incluídos.

Medos impedem a transição, na verdade a bloqueiam: são efetivamente limitadores das capacidades de um ser humano. Muitos baseiam a vida no medo, não na cautela e pensamento estratégico para ultrapassar os perigos. Dizem 'Meninx você vai cair!', ao invés de experimentar o 'Cuidado, você pode cair!' ou 'É perigoso, tenha cuidado!'. Seria mais produtivo observar o processo, pronto para intervir, caso necessário, e dar a oportunidade do amadurecimento via vencer os obstáculos.

É certo que, quanto mais cedo isso for implementado, a transição de um ser dependente para um autônomo (capaz de tomar decisões eficientes), ocorrerá sem tanto trauma – os medos que ficam atuando, guardados na alma*.

Tenho ocupado meus pensamentos com a questão da redução ao máximo dos elementos delimitadores (como fronteiras e limites) e reguladores (as negativas como não pode e não deve). Claro que isso exige uma mudança de paradigmas do Em si e Para si visando o Em nós e Para nós: colaboração, complementação, cooperação. Tornar-se um parceiro de vida de seus dependentes ou pessoas próximas, não o proprietário.

Muitos negativam o conceito de permissividade por não entenderem a dimensão que esta palavra carrega. Esquecem que o 'Tudo é permitido' vem antes (e tem que valer mais!) que seus corolários de alerta: PODE (não quer dizer que vai acontecer!) não convir e/ou reduzir o seu domínio próprio.

Quando se adota a mentalidade da vida como transições contínuas de um estado para outro (lembra dos transistores?), a regulação da energia que se possui ganha destaque em função dos alvos. Amplificar, retificar e bloquear os movimentos de forma crítica e pessoal: quais são os perigos e qual a estratégia para ultrapassá-los.

Nesse momento, até mesmo o 'um passo atrás para pegar impulso' ganha a dimensão que escapa do conceito de retrocesso ou limitação e ganha a de potencialização. A mim, isso lembra muito o encasular e o hibernar para renascer mais potente e belo. Mesmo que aparentemente se esteja parado, a transição está mais potente do que nunca. É possível não focar a limitação: concentrar-se na transformação e na evolução.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 22 de janeiro de 2017.

* Piaget propõe que aprendemos construindo e reconstruindo o pensamento por meio de assimilação e armazenamento, como as camadas de tijolos na estrutura de uma casa. A construção do pensamento ocorreria pela evolução de estágios:
  1. até os 2 anos de idade, o desenvolvimento das coordenações motoras permite à criança aprender a diferenciar os objetos do próprio corpo: seu pensamento liga-se ao que é concreto;
  2. dos 2 até por volta dos 7 anos, o pensamento da criança volta-se para si mesma. As linguagens para se expressar e gerar socialização via fala, desenhos e dramatizações são construídas;
  3. dos 7 até por volta dos 11, para ultrapassar o obstáculo da dificuldade de se colocar no lugar do outro, o pensamento busca mais se reestruturar que assimilar novidades;
  4. a partir dos 11 anos, a transição permite criar ideias e hipóteses do pensamento. A linguagem assume papel fundamental para se comunicar.
Apesar de se poder ver os estágios como um bloco sobre outro, quando alguém busca se avaliar sob o olhar das transições, esse processo torna-se muito mais rico, único. Todos carregamos misturas entre eles: alguns pedaços muito bem montados e outros que aguardam ser finalizados. Lindo porque é a individualização superando o determinismo.

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