Pesquisar este blog

1 de dez. de 2016

Cidadania plena, apesar de vocês

Ressurgimento inexorável, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em  30-11-2016.
Ressurgimento inexorável *, criado em 30-11-2016.

Um dia vieram e invadiram nossos campos. Enfraqueceram gradualmente nossas fronteiras internas via uma incessante contaminação midiática dos pensamentos e práticas ao nosso redor. Demoramos demais a perceber a desconfiguração que se estabelecia: o rastro de destruição que qualquer um identifica, agora.

Mas se assustarão com a nossa resiliência, a nossa capacidade de ressurgir de apenas um pequeno sopro do que somos, com esse entendimento de que as individualidades se estabelecem e se potencializam no coletivo. É que a chama, menos que uma faísca, voltou a incendiar nossos corações e mentes.

E, Louvado Seja!, estamos erguendo as nossas vozes outra vez, tornando as cinzas em que se tornaram nossos sonhos o adubo pra o ressurgimento. Nossas raízes fortes estão se expandindo, rejuvenescidas por meninos e meninas que ocupam os campi e as escolas, que invadem os espaços públicos e ousam encarar seus algozes, aqueles que agem para não ter seu futuro destruído, e soam ousada e unissonante seu Basta!

Os desiludidos, os desesperançados, os desgastados, os mesmos que não acreditavam antes, os que apenas embarcaram na onda mais fácil, continuam aí fazendo nada ou só criticando. Não nós. Não nossos coletivos. Não nossos esforços.

Fomos capazes de lamber nossas feridas, era o que podíamos. Mas nossos gritos de dor estão se tornando os rugidos que voltaram a assustar aqueles que acreditaram em nossa queda. Mesmo nos erguendo pouco a pouco, conscientizamo-nos indefectivelmente de que precisamos nos reestruturar, como um corpo cujos membros padeceram e teve que se prostrar para se recuperar.

A vida é um campo de lutas. Em vários níveis. E cada companheiro que adere à proposta, a torna mais potente, aumenta a aptidão e a certeza de reconquistar nosso espaço; nos incentiva a avançar por aqueles incapazes de fazê-lo neste momento. Já o fizemos antes — em um tempo em que havia uma estridente silenciação de peito, vozes e esperanças – e o faremos de novo!

Avisa para eles que estamos de pé e avançando inexoravelmente para reconquistar o que nos foi tirado.

A chama está acesa e a esperança não é mais apenas um estandarte. Tornou-se um corpo em movimento, um pensamento esclarecido, uma coletivização não mais ingênua: corrente forte e brilhante. Superamos a 'corrente pra frente' ditatorial.

Pensamentos e sentimentos tornam-se corpos lado a lado que avançam livres, firmes, fortes. Se nos tornarmos o último avatar dos que se erguem contra a tirania da corrupção golpista, o faremos com absoluta certeza de que é o necessário, o essencial e a mais potente expressão de um ser que não vive 'pelo e para o mercado' e sim pela humanidade que há em cada um, que merece ser plena e potente.

Avisa pra eles: somos trabalhadores, somos de gêneros diversos, somos índios, somos negros, somos as ditas minorias, sim; somos estudantes, intelectuais conscientes, somos cidadãos que lutam por condições de vida dignas para familiares, amigos, vizinhos, inclusive para quem é desconhecido. Somos os que possuem uma vontade inabalável e se insurgiram contra os obstáculos que colocaram em cada parte de nossos caminhos.

Somos sujeitos do próprio processo de vida. Não aceitamos migalhas. Queremos nossos direitos, não favores. E juntos construiremos nossa cidadania plena, apesar de vocês.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 1º de dezembro de 2016.

Hoje você é quem manda: falou, tá falado, não tem discussão. A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão, viu.
Você que inventou esse estado e inventou de inventar toda a escuridão; você que inventou o pecado, esqueceu-se de inventar o perdão:
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.

Eu pergunto a você: Onde vai se esconder da enorme euforia? Como vai proibir quando o galo insistir em cantar, água nova brotando e a gente se amando sem parar?
Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro! Todo esse amor reprimido, esse grito contido, este samba no escuro.
Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar; você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada nesse meu penar:
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.

Inda pago pra ver, o jardim florescer, qual você não queria. Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença e eu vou morrer de rir, que esse dia há de vir antes do que você pensa:
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.

Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia. Como vai se explicar vendo o céu clarear de repente, impunemente? Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente?
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia. Você vai se dar mal Etc. e tal

(Chico Buarque — Apesar de Você )


Nenhum comentário: