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17 de dez. de 2016

Da submissão ao amadurecimento social

Submissão, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 16-12-2016.
Submissão, criado em 16-12-2016.

O princípio da diferença é uma concepção fortemente igualitária no sentido de que, a menos que haja uma distribuição que faça com que ambas as pessoas fiquem em melhor situação… uma distribuição igualitária deve ser preferida.
(John Rawls*, 1971, citado por Ben Dupré em O princípio da diferença, p.187)


A história da geopolítica demonstra que dominadores importam-se mais com táticas de dominação grupal. Pessoas, isoladamente, podem agir conscientemente mas multidões ignoram individualidades. Fundamental ao domínio é detectar e desconstruir os elementos de coesão.

Vírus ensinam como desconstruir um corpo. Sujeitos infiltrados os replicam, desacreditando os movimentos legítimos, especialmente aqueles cuja retidão é inatacável. Mercenários de interesses poderosos tumultuam, enfraquecem lealdades, conflituam ideias pacíficas, disseminam a decomposição de forças propositivas.

Impõe-se aos coletivos recapitular, retornar a agir pela mútua proteção, assim como o sistema defensivo protege-se contra corpos invasores. Nas passeatas, cruzar os braços, se imobilizar e apontar para o elemento estranho que tenta desorganizar tornou-se uma ação refletida e eficaz. No apoio, a distribuição das descobertas individuais potencializou a atuação desmascarando os ardis de culpabilização do sistema repressivo: fotografias, streaming de vídeos e áudios disseminados na internet são extremamente velozes e esclarecedores.

Ideias militaristas não nos interessa: como nos filmes de ação hollywoodianos, os protagonistas viram heróis e os coadjuvantes são aniquilados. Nosso projeto é outro. Avançamos em bloco único e todos são protagonistas e cada um a mais importante linha de defesa. Aprendemos com nossos trabalhadores de construção: cada pedra, cada tijolo, cada ferragem, cada argamassa é o que sustenta o edifício.

Isso exige considerar cada um em si — diferente, único, com graus de entendimento variados, inclusive sobre a sua inserção no movimento. Em momentos de desânimo, novatos até questionam o porquê de lutar por quem os oprime, despreza e desqualifica – uma avaliação crítica verdadeira. Ilustrações de pensamentos como mito da caverna, do pensar fora da caixa, do respeito à diversidade visando a evolução é só um caminho. Nesses momentos cada um contribui com o que possui de melhor e uma boa resposta reacende a vontade de conquistar direitos por meio de um coletivo atuante.

Amadurecimento pessoal destrói alienações; o ultrapassamento do egoísmo guia ao coletivismo; sair da inatividade do ouvir 'Plim-Plim' e ir para as ruas afirmar o Não ou o Sim é mover a roda do futuro para um destino não produzido por dominadores, mas a ser descoberto, construído por todos: um por todos, todos por um. Este é o sentido de cooperação.

Quando questionam a falta de individualidade, afirmo que, ao contrário do totalitarismo das abelhas rainhas e assemelhados, o que propomos é a horizontalidade, a interação consciente entre seres diferentes: nossa diferença é o que nos fortalece, pois cada um contribui com o seu potencial. As discordâncias existem, não as escamoteamos, mas produzimos interseções, as referências e ideias em comum, capazes de aglutinar todos. Além disso, cada um se une ao que o toma intimamente, àquilo que entende ser fundamental, àquilo cuja participação pessoal ampliará a potência da ação.

É um ideal, sim, e não somos ingênuos. Somos persistentes, continuamos tentando, sempre de formas novas, ir em frente. Nossa ideologia nos tira a paralisia e nos põe em movimento para frente. Por isso nos chamam de ativistas.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 16 de dezembro de 2016.

* A teoria do 'liberalismo igualitário' contribui para harmonizar liberalismo clássico e ideais igualitários da esquerda.
No livro Uma teoria da Justiça, John Rawls hierarquiza princípios (liberdade é anterior e superior ao princípio da igualdade e a igualdade de oportunidades é superior ao princípio da diferença) sob a ideia da justiça. Por definir critérios de julgamento de direitos, deveres e demais bens sociais, avançou para o julgamento da constituição política, das leis ordinárias e das decisões dos tribunais.
Rawls demonstrou que tanto o capitalismo clássico (de livre mercado ou de bem-estar social) como o socialismo estatal produziam injustiças. Um 'socialismo liberal' — propriedade coletiva dos meios de produção — ou uma 'democracia de proprietários' poderia satisfazer, concretamente, seus ideais de justiça.
Com proximidades e divergências mais para uma questão de tonalidades de uma mesma cor, Habermas defende uma democracia deliberativa onde 'os princípios e a estrutura básica da sociedade devem ser definidos pelos indivíduos através de um processo democrático radicalmente aberto ao diálogo e ao entendimento. Seus atores fundamentais são os movimentos sociais e organizações da sociedade civil'.
Me aproximo dos dois na lógica de participação social pois acredito ser fundamental à democracia o princípio de participação cívica e pública nas decisões coletivas (liberdade positiva) e a atuação na redução das desigualdades de oportunidades e de condições sociais. E essa é minha bandeira de luta.

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