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11 de mar. de 2018

Discursos dupla mente

Bombardeio mental, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 09-03-2018.
Bombardeio mental *, criado em 09-03-2018.

Podemos aprender algumas lições elementares sobre as pessoas com base no preço de certos produtos. Há alguns anos, a Apple, fabricante de computadores, apresentou seu novo laptop Macbook em duas cores: branco e preto – esta, uma versão especial, mais cara. Apesar de ser idêntica à versão branca – velocidade, espaço disponível em disco e assim por diante –, a versão preta foi vendida por US$ 200 a mais. Mesmo assim, venderam muito bem. Isso não teria acontecido se a demanda não fosse suficiente, e assim ficou claro que as pessoas se dispuseram a pagar um pouco mais só para se diferenciarem de seus vizinhos e seus laptops banais, brancos.
(Edmund Conway — Oferta e procura, cap 2, p.15-16 em 50 ideias de economia que você precisa conhecer)


Na ordem de precedência para o Mercado, a meritocracia é definida pela ascendência via indicação político social ou pelo marketing pessoal e não pela excelência laboral. E, no caso dos produtos, sua criatividade e qualidade submetem-se ao vender o produto a preço supervalorizado.

O registro atual de mercado definiu um padrão de aparência como tudo: com um pouco de marketing social, a roupa de baixa qualidade, feita por mão de obra escrava ou quase, mas, com um logotipo qualquer na etiqueta vira tendência de moda e o preço triplica ou mais. É certamente a subvalorização da eficiência e da produção com qualidade

A ilusão incutida na população, adotada e reproduzida especialmente pela classe média, é a de que se você tiver aparência de marca será bem sucedido na vida. Gasta-se muito mais com moda (aparência) do que com aprendizagem (conteúdo).

O povo não tem acesso à grife exclusiva, compra do atacadão. Não são falsificações que estou avaliando, são produtos encomendados por grandes magazines (rede de lojas popularmente renomadas) a pequenos produtores, a preços irrisórios. Ao seguirem igualmente para o mercado popular e o informal, demonstram que é pura ilusão o padrão de qualidade diferenciado.

Entenda a logística: o mesmo produto feito no exterior (geralmente, na Ásia) é importado por diversas marcas, recebendo como única modificação etiquetas interna e externa. A tal da segunda linha, é esse mesmo produto que recebe apenas a troca das letras no nome, por exemplo, Calvin Lein para as camadas populares e o CK para os medíocres que se definem por rótulos.

A imitação insana dos 'famosos', essas crias passageiras de um marketing de controle social, produz a dominação de padrões (de beleza, de comportamento, de músicas ou de outros produtos), torna supérfluo algo essencial e retira do essencial (alimentação, aprendizado, expressão de características pessoais…) o seu potencial de realização e de plenitude. Chega ao ponto em que copiar se torna melhor que individualizar e se destacar.

Isso é feito para que se deixe de pensar em diversidade, valores diferenciados e singularidades: todos importantes para o enriquecimento de uma cultura e da sociedade.

Deixa de ser uma questão de barato/caro, ruim/bom ou feio/bonito. Torna-se simplesmente a hegemonia de um determinado padrão por conta de uma insistente propaganda. No final, resta apenas aquilo que pode sociologicamente ser considerado um discurso 'dupla mente'. Essa nova técnica de propaganda, que manipula ao reunir pensamentos antagônicos para a produção da lavagem cerebral da 'atitude': o 'ser escravo é ser livre'.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de março de 2018.

* O uso do poder financeiro para manipulação de comportamentos passa pelo convencimento para a adoção de um único padrão como socialmente aceitável e a exclusão dos que não aderem a ele incondicionalmente.

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