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6 de mai. de 2017

Forças desafiantes

Forças desafiantes, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 06-05-2017.

O regulamento não mais servia como um mapa. E ainda assim não era concebível que houvesse um erro. Dom Juan e seus guerreiros argumentaram que o poder não comete erros. […]
O benfeitor deles tinha-os guiado na certeza de que o regulamento encerrava tudo com que um guerreiro pudesse se preocupar. Ele não os tinha preparado para a eventualidade do regulamento poder se provar inaplicável.[…]
Sílvio Manuel disse que eu era como um pássaro incubado pelo calor e cuidado por pássaros de espécie diferente. Todos eles estavam prontos para me ajudar, como eu próprio estava pronto a fazer qualquer coisa por eles, mas eu não pertencia àquele grupo.
(Carlos Castaneda — O presente da águia, p.184-185)


Genericamente fomos […] e chegamos a Homos (habilis, erectus, ergaster, heidelbergensis, floresiensis, neanderthalensis), até que adotamos, a pouco, o arrogante título de Sapiens, contra todas as provas em contrário.

Em todo o tempo, mitos conduzem a vida. Humanos acreditam, isso é fato. Em que, é uma questão. Conduzimos a vida com base em suspeitas probabilidades de a realidade ser do modo como percebemos uma situação em determinado instante. Ou somos convencidos de que a ilusão momentânea é fiel e verdadeira, é real.

Então, apostamos em projetos de vida. Elegemos práticas como mais eficazes ou boas, creditando a elas o poder de nos elevar e levar adiante. Investimentos de energia pessoal de diversos matizes é empregada para realizar as potências pessoais.

Enquanto esse projeto de vida permitir a gradação e não a degradação pessoal, tudo bem. O problema é quando a ilusão eleita se torna um obstáculo para o aprendizado e a evolução individual e coletiva. Já passamos por algumas Idades das Trevas, comprovadamente. E não tenho dúvidas de que todos ainda estamos imersos nela. Basta graduarmos os níveis de atolamento.

Uma coisa é fato: desafios produzem mudanças. Pela combinação ou composição de covardia e coragem, por absorção das derrotas ou vitórias, por jogar-se acriticamente ou por elaborar estratégias. Ao fim das contas, o que permanece é o que importa, inclusive a sinalização do processo pelas cicatrizes.

O imobilismo ou a inércia também ensinam. Mas não do mesmo modo que as narrativas e os costumes. Enquanto estas nos contam os processos de ultrapassamento; aqueles, a incapacidade de encarar as forças desafiantes.

Uma das maiores forças despotencializadoras é a moralidade. Em nome dela, impedimos a renovação. Mas o que está em jogo é a perda de poder e de domínio permitidos pelo já estabelecido: novo jogo, novas regras. Ao mesmo tempo em que os desafiantes do desconhecido se lançam no processo de conquistar forças e equipamentos necessários para escalar pelas desconhecidas etapas, o restante permanece na crítica e na desqualificação dos que se diferenciaram.

Não quero provocar nada que não seja a reflexão e a avaliação crítica pessoal, diante da vida e do que se nos oferecem como necessário, como verdadeiro, como correto, como melhor, como ideal. Há projetos de vida, há riscos traçados que geram trilhas e mostram o rumo seguido. Há tendências e vontades pessoais projetivas do adiante.

Essa aventura chamada vida dura muito ou pouco, nos arma com corpo e artifícios, facilita ou dificulta práticas, e há outros tantos elementos a serem considerados. O estar pleno é a única referência de valor e, certamente, isso deve ser avaliado pelo aprendizado que se conquistou e pela alegria que se proporcionou: individual e coletivamente.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de maio de 2017.

* A diferenciação é a forma como a natureza estabeleceu o processo de vida. É imenso o número de casos onde a ela não se sustenta e é descartada e seu portador não sobrevive isoladamente. Em número menor, os desafiantes da ordem estabelecida se projetam como uma nova ordem ou o novo modo de ser. Tornam-se uma evolução. É então, que o modo anterior de ser, por seu anacronismo, é descartado aos poucos. Seus resquícios se tornam algo excêntrico, exótico e bizarro. Eliminável.

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