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5 de fev. de 2017

Ondas estratosféricas

Ondas estratosféricas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05-02-2017.
Ondas estratosféricas, criado em 05-02-2017.

Para Stuart Hall, nos últimos trabalhos de Foucault é possível perceber um avanço considerável ao mostrar como isso [que a constituição dos sujeitos] se dá, em conexão com práticas discursivas historicamente específicas, com a auto-regulação normativa e com tecnologias do eu.
A questão que fica é se nós também, precisamos, por assim dizer, diminuir o fosso entre os dois domínios, isto é, se precisamos de uma teoria que descreva quais são os mecanismos pelos quais os indivíduos considerados como sujeitos se identificam (ou não se identificam) com as posições para as quais são convocados; que descreva de que forma eles moldam, estilizam, produzem e 'exercem' essas posições; que explique por que eles não o fazem completamente, de uma só vez e por todo o tempo, e por que alguns nunca o fazem, ou estão em um processo constante, agonístico, de luta com as regras normativas ou regulativas com as quais se confrontam e pelas quais regulam a si mesmos – fazendo-lhes resistência, negociando-as ou acomodando-as.

(Stuart Hall — Da diáspora: identidades e mediações culturais, p.126)


Dói nascer, dói viver, dói transmutar? Será que o gemido da Terra soou na via láctea, como gritos de um parto natural, ao ter um pedaço seu arrancado num impacto de proporção galática, ao parir a lua? Produzir, a partir de si mesmo, elementos que iluminam sua esfera pessoal nem sempre se acomoda na ideia romântica de espíritos evoluídos que nunca encaram problemas que os abalam.

Constituímos pontes, intercâmbios, composições com toda forma de vida orgânica ou não. Essa não é uma viagem psicodélica: um simples passeio na praia garante a frase anterior. Absorvemos pulsos e impulsos de tudo o que nos rodeia e podemos transformá-los em potência se estabelecermos uma composição que satisfaz as nossas necessidades vitais.

Viajar por tais pulsos produz a percepção de que o vital é muito mais que as necessidades básicas para quem é de uma esfera que expandiu as premissas fundamentais da biologia e das regulações e determinações sociais.

Em um magma poderosíssimo, incansável e inconstante, fluímos compondo e decompondo o necessário. Toda percepção se constitui e flui em infinitésimos do que inventamos ou estabelecemos como tempo. De quando em vez, caímos na rede constituída com partes das ilusões que nos assomam e que, de um modo ou outro, adotamos como verdades absolutas: somos isso ou aquilo, devemos agir de um modo ou de outro, crer nisso ou naquilo.

Por mais racional que se consiga ser, há um momento onde o silêncio se autodetermina perante a falta de explicações para os acontecimentos e processos que integram nossa inserção nessa ilusão chamada realidade. Sem um mergulho em suas fontes, elas continuarão a nos assombrar e a determinar nossos modos de ser e estar.

Só que a vida é o que atravessa todas as ilusões, imanente e transcendente simultaneamente. Só a vitalidade existe, se constitui e se expressa. Cada ser é apenas uma infinitesimal potência do todo. Mas, e isso acontece em cada fluxo de potência, mundos são estabelecidos e podem se compor em galáxias e universos: o seu, o meu, o nosso, o dos outros.

Viver pode ser apenas navegar nesse mar revolto de ondas estratosféricas das potências da vida. Se o for, o modo como a unidade de fluxo encapsulada em um ser aprende a conduzir esse barquinho torna-se o maior desafio de uma pessoa para tornar-se um indivíduo, equilibrar sua subjetividade em relação aos coletivos em que se integra*.

Mas, para os que intentam ir além desse entendimento, adiciona-se o desafio de produzir composições capazes de gerar um extra de energia, capaz de estabelecer outras percepções e entendimentos, de ir ao encontro de outros níveis para a própria existência. Utopia. Como tudo o que definimos como mundo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 05 de fevereiro de 2017.

* Adota-se como comum haver exclusão social em diversos níveis. Pessoas são alienadas por não adotarem o padrão hegemônico, o estabelecido como melhor e correto. Isso acarreta a criação de guetos sociais onde, só ali, é possível expressar a sua potência como indivíduos plenos.
Mas, o modelo estabelecido é apenas um caos que se sustenta por frações de tempos em que os interesses financeiros ou políticos o desejam. Isso inclui a moda, continuamente 'renovada', onde o feio de antes é o bonito de agora, mas tudo tem seu preço majorado pela 'novidade'.
Todos os valores que compõem esse modelo estão a serviço de um modo de ser e estar e qualquer um que o desafie é ignorado, excluído, rotulado e desqualificado. Loucura, certo? Mas essa é a ilusão que é vendida e comprada por seres ávidos de pertencer e serem identificados como alguém.

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