Um guerreiro pensa em sua morte quando as coisas se turvam.
[…]
Por que pensar?
Muito simples – disse ele.
Porque a ideia de morte é a única coisa que modera os nossos espíritos.
(Carlos Castanheda — Uma estranha realidade, p.49)
Quase uma década de preocupações, desatinos e muita desinformação foi expandida com a pandemia de Covid-19 e o sofrimento marcou presença em diversos níveis, mas para todos. No mundo onde já se antevia os extremismos polarizantes, na política e na religiosidade midiática fundamentalista, a exclusão ampliou-se como referencial do modo operandis do capitalismo selvagem: ressucitaram os velhos jargões dos preconceituosos e as práticas hipócritas da 'gente de bem' – inclusive seu discruso sobre quem deveria estar exposto ao vírus em nome do capital.
Ataques articulados em instâncias de nível empresarial, político e religioso foram direcionados ao conhecimento científico e a Era das Trevas, recriada, conduziu centenas de milhares ao óbito evitável – o Brasil (e grande parte do mundo), tomado por disseminação de falsidades, em meio a casualidades nefastas e ganância sobreposta à vida – ficou, literalmente, desgovernado.
Não cabe um olhar ingênuo, de acontecimento fortuito, ante uma prática premeditada. Discursos amplificados por meio de softwares de robótica, disseminados em redes sociais e usando agregações de dados por meio de inteligência artificial, reverteram séculos de ensinamentos relativos aos cuidados e à vigilância sanitária. Inseriram no tecido social, especialmente das classes mais desfavorecidas, uma reação negativa às práticas de vacinação. Como resultado, além das variantes e mutações em diversos vírus, as doenças praticamente eliminadas há décadas retornaram.
Mentalidades modeladas a partir de discursos raivosos reacenderam seus sentimentos mais abjetos e os trouxeram à tona da realidade diária, expressos e visibilizados por meio de agressões (em discursos ou fatuais) por todo o país. Simultaneamente à promoção do medo e da insegurança, o armamentismo se tornou 'ordem do dia', ressuscitado por 'viúvas sobreviventes da ditadura do militarismo'. Novamente, assolaram o país com seu desempenho desqualificado, posicionados em funções civis no governo.
À mescla ensandecida de religião fundamentalista e militarização, acrescentaram o orgulho pela própria ignorãncia. De imediato, todos que referenciavam o pensamento crítico se tornaram objeto de ataques em massa nas redes sociais: as 'opiniões' sem embasamento crítico foram adotadas como um referencial tão qualificado e válido quanto o saber universal.
Corporações, visando venda de seus produtos, investiram na falsificação de estudos, na emissão de pareceres desarrazoados – fora dos padrões exigíveis para credibilidadede – por quem não mais desenvolvia pesquisas. Usaram o mote 'liberdade de expressão' para gerar-lhes um embelezamento indevido. Influenciadores de redes sociais, alinhados e escalados para a prática, disseminaram-nos. Com a monetização dos acessos artificiais, ganharam fortunas – a Polícia Federal, hoje, em posse de suas prerrogativas de atuação, está desbaratando as quadrilhas envolvidas.
Ações em nível jurídico minimizaram algumas dessas práticas. Na contramão da onda de desinformação, pensadores e cientistas incentivaram, como algo prioritário, todos com o mínimo de crítica a criar um movimento para desacreditá-los, com provas cabais, perante a população.
Contudo, não somos ingênuos, levará muito tempo para sanar as mazelas geradas em gente comum, sem escolaridade, por pensamentos toscos amplificados e validados artificialmente – especialmente seu efeito viral em jovens em desenvolvimento nas redes sociais.
É necessário contextualizar a situação para obter novas abrangências: durante toda a pandemia, o mundo ficou imerso em virtualidades. Aos poucos, a degeneração do valor individual, face à sensação de pertencimento trazida a quem se sentia isolado, ganhou terreno. E, rapidamente, o uso benéfico do perfil ou avatar (nos contatos interpessoais à distância, nos jogos de fantasia) tornou-se a seara ideal para plantio das sementes do ódio, da desinformação e da disseminação acrítica de conteúdos por meio dos aliciamentos aos agrupamentos de seguidores mantidos com conspirações por quadrilhas ou corporações (de armamentista ao agrotóxico), religiosos e políticos extremistas.
Em pouquíssimo tempo, algo surreal, retornamos à planificação da terra e à razão superficial e razante – em níveis muito inferiores ao senso comum anterior, porque resultado da potente manipulação fundamentalista. Por outro lado, fruto dessa conjuntura – e também do processo de colaboração global na produção de uma vacina contra a Covid-19 –, pensadores e cientistas identificaram o seu isolacionismo academicista como algo de extremo perigo. No presente e para o futuro – me incluo nesse desafio –, há o trabalho incessante de formiguinha visando expandir, de forma democrática e facilitada, seus saberes, seus metodos, suas práticas e descobertas.
Não é mais apenas uma visão pessoal de que a popularização dos saberes científicos será algo benéfico, especialmente para quem experimentou a vivência caótica de um país que se tornou a latrina da América: dos seus esgotos, surgiram os bichos mais escrotos que viviam na surdina, escondidos e ocultos, até que veio o Golpe.
Ataques articulados em instâncias de nível empresarial, político e religioso foram direcionados ao conhecimento científico e a Era das Trevas, recriada, conduziu centenas de milhares ao óbito evitável – o Brasil (e grande parte do mundo), tomado por disseminação de falsidades, em meio a casualidades nefastas e ganância sobreposta à vida – ficou, literalmente, desgovernado.
Não cabe um olhar ingênuo, de acontecimento fortuito, ante uma prática premeditada. Discursos amplificados por meio de softwares de robótica, disseminados em redes sociais e usando agregações de dados por meio de inteligência artificial, reverteram séculos de ensinamentos relativos aos cuidados e à vigilância sanitária. Inseriram no tecido social, especialmente das classes mais desfavorecidas, uma reação negativa às práticas de vacinação. Como resultado, além das variantes e mutações em diversos vírus, as doenças praticamente eliminadas há décadas retornaram.
Mentalidades modeladas a partir de discursos raivosos reacenderam seus sentimentos mais abjetos e os trouxeram à tona da realidade diária, expressos e visibilizados por meio de agressões (em discursos ou fatuais) por todo o país. Simultaneamente à promoção do medo e da insegurança, o armamentismo se tornou 'ordem do dia', ressuscitado por 'viúvas sobreviventes da ditadura do militarismo'. Novamente, assolaram o país com seu desempenho desqualificado, posicionados em funções civis no governo.
À mescla ensandecida de religião fundamentalista e militarização, acrescentaram o orgulho pela própria ignorãncia. De imediato, todos que referenciavam o pensamento crítico se tornaram objeto de ataques em massa nas redes sociais: as 'opiniões' sem embasamento crítico foram adotadas como um referencial tão qualificado e válido quanto o saber universal.
Corporações, visando venda de seus produtos, investiram na falsificação de estudos, na emissão de pareceres desarrazoados – fora dos padrões exigíveis para credibilidadede – por quem não mais desenvolvia pesquisas. Usaram o mote 'liberdade de expressão' para gerar-lhes um embelezamento indevido. Influenciadores de redes sociais, alinhados e escalados para a prática, disseminaram-nos. Com a monetização dos acessos artificiais, ganharam fortunas – a Polícia Federal, hoje, em posse de suas prerrogativas de atuação, está desbaratando as quadrilhas envolvidas.
Ações em nível jurídico minimizaram algumas dessas práticas. Na contramão da onda de desinformação, pensadores e cientistas incentivaram, como algo prioritário, todos com o mínimo de crítica a criar um movimento para desacreditá-los, com provas cabais, perante a população.
Contudo, não somos ingênuos, levará muito tempo para sanar as mazelas geradas em gente comum, sem escolaridade, por pensamentos toscos amplificados e validados artificialmente – especialmente seu efeito viral em jovens em desenvolvimento nas redes sociais.
É necessário contextualizar a situação para obter novas abrangências: durante toda a pandemia, o mundo ficou imerso em virtualidades. Aos poucos, a degeneração do valor individual, face à sensação de pertencimento trazida a quem se sentia isolado, ganhou terreno. E, rapidamente, o uso benéfico do perfil ou avatar (nos contatos interpessoais à distância, nos jogos de fantasia) tornou-se a seara ideal para plantio das sementes do ódio, da desinformação e da disseminação acrítica de conteúdos por meio dos aliciamentos aos agrupamentos de seguidores mantidos com conspirações por quadrilhas ou corporações (de armamentista ao agrotóxico), religiosos e políticos extremistas.
Em pouquíssimo tempo, algo surreal, retornamos à planificação da terra e à razão superficial e razante – em níveis muito inferiores ao senso comum anterior, porque resultado da potente manipulação fundamentalista. Por outro lado, fruto dessa conjuntura – e também do processo de colaboração global na produção de uma vacina contra a Covid-19 –, pensadores e cientistas identificaram o seu isolacionismo academicista como algo de extremo perigo. No presente e para o futuro – me incluo nesse desafio –, há o trabalho incessante de formiguinha visando expandir, de forma democrática e facilitada, seus saberes, seus metodos, suas práticas e descobertas.
Não é mais apenas uma visão pessoal de que a popularização dos saberes científicos será algo benéfico, especialmente para quem experimentou a vivência caótica de um país que se tornou a latrina da América: dos seus esgotos, surgiram os bichos mais escrotos que viviam na surdina, escondidos e ocultos, até que veio o Golpe.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de outubro de 2022 e em 11 de outubro de 2024.
* O saber tem sedução própria (não a subestime!) – disseminar conhecimento não é o mesmo que forçá-lo. É ampliar, ao redor, os ares que lhes sejam benéficos e indicar que é possível incorporá-lo. Porém, diante da morte, com vidas em jogo, não é admissível a opção pela ignorância – esta exceção se estabeleceu durante a Covid-19.
Como Clinton Richard Dawkins (etólogo, biólogo evolutivo e escritor britânico), identifico a mistificação como algo perigosíssimo, desde tempos remotos usado para dominação e controle. A Era das Trevas nos ensinou que, quanto mais fundamentalista é o pensamento, maior o seu poder de sedução em mentes sem conhecimento crítico ou em formação ('cabeças vazias').
Como Clinton Richard Dawkins (etólogo, biólogo evolutivo e escritor britânico), identifico a mistificação como algo perigosíssimo, desde tempos remotos usado para dominação e controle. A Era das Trevas nos ensinou que, quanto mais fundamentalista é o pensamento, maior o seu poder de sedução em mentes sem conhecimento crítico ou em formação ('cabeças vazias').